O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sergio Camargo, afirmou na noite de hoje que o reality show "Big Brother Brasil", da Globo, trouxe um "benefício": o de mostrar que "há pretos racistas" no País, segundo ele. A declaração foi feita por Camargo através do seu perfil nas redes sociais.
"É inegável que essa edição do BBB tem um benefício. Mostra, em tempo real, que há pretos racistas no Brasil. E são todos crias do esquerdismo que tenta nos dividir. Finalmente a máscara caiu", escreveu Camargo. "[Foi] um tiro no pé da esquerda, grande oportunidade para a direita", afirmou em seguida, ao responder o comentário de um seguidor.
Apesar da afirmação, Sergio Camargo não cita nomes nem situações específicas à qual se refere.
Na nova temporada do "BBB", que estreou no fim de janeiro, nove dos 20 participantes do programa são negros. É considerada a temporada com o maior número de participantes afros em seu elenco em uma única edição. São eles: Lumena, João Luiz, Gilberto, Karol Conka, Camilla de Lucas, Pocah, Nego Di, Lucas Penteado e Projota.
Com pouco mais de uma semana no ar, a cantora Karol Conka se envolveu em polêmica e foi acusada por internautas de xenofobia ao associar sua origem curitibana ao modo mais reservado de falar, em oposição a Juliette, que é paraibana. Artistas, como o youtuber Whindersson, criticaram a postura da rapper.
O programa também mostrou que Conká impediu Lucas Penteado de comer na mesa ao lado dos outros participantes, o que gerou mais críticas nas redes sociais.
Negou racismo no Brasil
Esta não é a primeira polêmica na qual Camargo se envolve: no Dia da Consciência Negra de 2020, por exemplo, o presidente da Fundação Palmares — órgão lançado "com a finalidade de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira"— também negou que exista racismo estrutural no Brasil.
Em outra ocasião, ele fez críticas ao movimento negro, alegando que deveria ser prioridade a leitura de Monteiro Lobato em vez de ouvir artistas como Emicida e Mano Brown.
Nomeado em novembro de 2019, Sergio Camargo foi imediatamente rechaçado pelo movimento negro e por intelectuais, ativistas, organizações que lidam com a pauta racial e a defesa da produção cultura negra no país. A mobilização contrária à indicação acabou resultando em uma ação civil, acolhida pela Justiça no mês seguinte, e que suspendeu sua nomeação. Esta decisão, no entanto, foi derrubada em fevereiro de 2020 pelo então presidente do STJ, João Otávio de Noronha.
Diante disso, a DPU (Defensoria Pública da União) recorreu da medida e apresentou recurso para a retirada de Sergio Camargo, suspendendo sua nomeação. Mais uma vez, o STJ negou o recurso, em Agosto, e por unanimidade.