Índios denunciam invasão de terras indígenas no Maranhão
17/01/2019 07:21 em NOTÍCIA

De acordo com a jornalista Míriam Leitão, a Terra Indígena dos Awá Guajá, na qual houve a desintrusão em 2014, está sendo novamente invadida

A Terra Indígena dos Awá Guajá, na qual houve a desintrusão em 2014, está sendo novamente invadida. Há fazendeiros já instalados lá, árvores foram derrubadas e há rebanho pastando por lá. As informações são da jornalista Míriam Leitão. Nas últimas horas, a jornalista manteve vários contatos com uma liderança indígena no Maranhão na terra ao lado onde ela esteve, em 2013, fazendo uma reportagem para O GLOBO junto com o fotógrafo Sebastião Salgado. A jornalista arma que também falou com outras pessoas da área.

Segue, abaixo, a íntegra da matéria da jornalista ao portal do jornal O Globo

Os Awá Guajá são denidos pela Funai como “de recente contato”. A maioria só fala Guajá. Antonio Guajajara, da Terra Caru, falou que eles estão correndo

No Maranhão os remascentes de Floresta Amazônica estão em três terras indígenas: Awá Guajá, na qual z a reportagem, Caru, onde vivem os Guajajara e onde tem mais duas aldeias de Awá e a TI Alto Turiaçu onde vivem os Ka’apor.

Os Guajajara, depois da desintrusão (retirada de ocupantes ilegais), formaram dois grupos de vigilantes: os Guardiões da Floresta, e as Guerreiras da Floresta, para scalização e conscientização da importância da preservação.

Leia abaixo o depoimento de Antonio Guajajara me explicando a situação atual. Neste m de semana foram feitas reuniões de grileiros para planejar novas invasões, segundo informação que eu consegui com moradores da região. O blog traz tudo isso com exclusividade: as vozes indígenas alertando e pedindo ajuda.

Depoimento de ANTONIO WILSON GUAJAJARA, cacique da aldeia Maçaranduba, da Terra Indígena Caru, Maranhão

“A gente vem acompanhando as ameaças que estão surgindo sobre a terra indígena Awá Guajá. Nós que moramos aqui perto, na verdade são três terras coladas uma a outra: a terra indígena Caru, a terra indígena Awa Guajá e a terra indígena Alto Turiaçu dos indígenas Ka’apor.

A gente está vendo a terra dos Awa a um instante ela sendo invadida pelos nãoindígenas, pelos invasores, os antigos invasores que moravam nela. Quando teve a desintrusão, quando eles saíram, e agora essa nova possibilidade de o governo liberar as terras indígenas. Isso faz com que eles achem que está tudo já liberado e aí eles estão se manifestando para querer invadir.

Só que nós aqui, Miriam, dessa região onde eu moro, a gente trabalha da maneira organizada. Sabemos que as únicas terras em que existe mata no tem matas. Foi formado desde 2014 o grupo de Guardiões da Floresta, no qual a gente faz a vigilância. A gente faz a vigilância para que essas pessoas não possam entrar. Aqui na terra Caru a gente trabalha para isso: defender a oresta de uma maneira pacíca, sem violência, educada.

Já zemos várias capacitações e sabemos também que o nosso dever de proteger a oresta é muito importante porque aqui na terra também tem os Awá que nunca tiveram contato com ninguém. Não sei se você sabe, mas aqui na Caru tem ainda esses indígenas. Eles são índios de recente contato, que são a aldeia Tiracambú e a aldeia Awá. Ficam aqui na terra Carú.

A gente está pensando em continuar fazendo esse trabalho. Vem dando certo. Hoje a terra indígena Caru, Turiaçu, a Pindaré, outra terra aqui também de Guajajara, a gente vem vendo resultado, trabalhando os guardiões juntos, mostrando para o invasor que a gente não está para entrar em conito, que a gente está para conversar, fazendo com que eles entendam que a terra é nossa, é indígena. E também aqui, quando foi formado o grupo de guardiões da oresta, foi formado também o grupo das guerreiras, de mulheres, de Guerreiras da Floresta como chamamos aqui. O trabalho delas é fazer reunião com os povoados, nas cidades, informando a importância da oresta, a importância dos rios, a importância de todos animais, e também informando que tem indígena dentro da terra que não se deve ter contato. A gente vem trabalhando muito forte em cima disso, avisar aos não-índigenas, os “brancos” como falamos. O trabalho delas é muito importante. Esse grupo só existe aqui na Caru. Desde 2014 os Guardiões andam pela terra e as Guerreiras andam pelo outro lado, dos não-indígenas, fazendo esse tipo de trabalho que é perigoso, mas é importante para nós tudo.

A gente está bastante preocupado. A nossa terra indígena Carú é de 172 mil hectares, só floresta. Se a gente não tiver parceria com os amigos, com outras pessoas, fica também difícil para gente.

Sabemos que quem vai sofrer mais com o que ta acontecendo.

A terra indígena Carú está rodeada de povoados. É tipo uma ilha, tem dois rios. Existe também bastante invasão. Mas a gente está batendo rme e forte, continuando nossos trabalhos de vigilância. Mas a gente precisa de mais força também. Esse é um pouco de história aqui da Caru.

Quanto à terra Awá, a gente quer unir forças. Tanto com os Awá, que são recente contato, quer unir força com a etnia Ka’apor, e quer unir força com os outros parentes também para que a gente possa ajudar eles, os Awá, a fazer suas aldeias lá dentro da terra. Eles não fazem ainda por conta de ameaças, por conta de várias desmatamentos que estão sendo muito fortes dentro da terra Awá. A gente foi lá, passou quase um mês lá, e a gente não vê outra coisa a não ser pasto, criação de gado está muito forte. E eles estão jogando agora é veneno por cima da oresta para matar os matos e criar os capins. Fazer com que a pastagens aumente. Isso é bastante preocupante para nós.

O que nos resta é unir as forças. Daqui para frente nós vamos fazer isso, unir as forças. Vamos unir força para que a gente possa ajudar a salvar os parentes Awá que não estão ainda contactados. Estão na mata. Estamos preocupados com o futuro das nossas vidas e das deles também (…) Eles dependem muito da gente e dos Ka’apor. Essas terras do Awá ca no meio das duas terras, tanto da Caru quanto do Alto Turiaçu. Precisamos de muito apoio para que possamos reorestar o que foi destruído e proteger também ao mesmo tempo as três terras juntos.

Quando você veio, naquele ano, não tinha muito desmatamento. Hoje está muito diferente. A invasão aumentou, tiração de madeira também. Tem alguns fazendeiros dentro, morando e eles estão utilizando esse tipo de trabalho, jogando veneno por cima da terra dos Awá. Tudo isso está acontecendo dentro queimando tudo.

Não sabemos se os Awá, que ainda não estão contactados, nós não sabemos se ainda existem lá dentro. Sabemos que tem na terra Caru, a terra onde eu moro, mas na terra dos Awá não sabemos. Se tem, eles estão vivendo meio que para um lado e para outro. Topa com madereiro, topa com caçador. Principalmente agora com o que está acontecendo com eles.”

 

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