O ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques negou em depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro que o órgão tenha agido para atrapalhar as eleições de 2022.
O que aconteceu?
A "Operação Eleições" fez uma série de blitze em todos os estados do país em 30 de outubro de 2022, dia do segundo turno. Segundo a PRF, o foco era evitar possíveis crimes eleitorais.
O STF (Supremo Tribunal Federal) havia proibido operações que afetassem o transporte de eleitores, gratuito naquele dia em várias cidades. Mesmo assim, a PRF, sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e então comandada por Vasques, seu apoiador, realizou centenas de bloqueios, com inspeção de vans e ônibus, principalmente no Nordeste, conforme revelou documento obtido pelo UOL.
Silvinei, à comissão, disse que ação coordenada para impedir a votação seria impossível. "Temos 13 mil policiais, grande parte dos nossos policiais também eram eleitores do presidente Lula. Além disso, é um crime impossível, que não ocorreu, não tem como", disse. "Como falaríamos com 13 mil policiais explicando essa forma criminosa sem ter uma conversa de WhatsApp, Telegram, sem uma reunião, sem nenhum email enviado?", questionou.
Para o ex-diretor, não haveria como articular a ação sem vazamentos. "Número grande desses policiais é de ideologia progressista, de esquerda. Será que, desse grande efetivo, nenhum participou ou viu no corredor alguma coisa? Não tem como fazer uma situação dessa, envolver policiais no Acre, Amapá, Rio Grande do Sul sem ter uma simples conversa de corredor.
Dados da PRF encaminhados à CGU (Controladoria-Geral da União) mostrou que a corporação fiscalizou 2.185 ônibus no Nordeste entre os dias 28 e 30 de outubro, região onde o presidente Lula venceu no primeiro turno e tinha favoritismo para o segundo. Nas demais regiões, foram 893 (Centro-Oeste), 632 (Sul), 571 (Sudeste) e 310 (Norte).
Com os bloqueios, eleitores chegaram atrasados a seus locais de votação. O TSE chegou a ampliar o horário para as pessoas votarem, além de pedir explicações à PRF.
Vasques foi demitido em dezembro daquele ano. Atualmente, é réu por improbidade administrativa devido à operação.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que houve desvio de padrão comprovado.
O que aconteceu hoje na CPI?
A CPI aprovou hoje a convocação do general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), do ex-diretor da Abin Saulo Moura da Cunha e do coronel Jean Lawand Júnior.
Houve bate-boca entre a relatora, Eliziane Gama, e o deputado Eder Mauro (PL-PA), interrompendo a sessão por alguns minutos.
PRF pagou mais agentes de folga onde Lula venceu
Documento interno da corporação obtido pelo UOL aponta que o efetivo extra foi usado principalmente em regiões do Norte e Nordeste, em redutos eleitorais de Lula.
A PRF disse que os policiais foram empenhados com base em análise técnica e que 65% dos crimes eleitorais no primeiro turno aconteceram nessas duas regiões.
Os bloqueios foram contestados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) à época.
Os estados onde Lula havia ganhado no primeiro turno e onde houve reforço de efetivo com hora extra pago pela PRF foram Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Minas Gerais
Quem é Silvinei?
Silvinei assumiu o posto de diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal em abril de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro deu posse a Anderson Torres no Ministério da Justiça. Nas suas redes sociais, Silvinei aparecia em fotos ao lado de Bolsonaro em eventos do governo com a presença da PRF.
Durante as eleições, SIlvinei defendeu o voto no ex-presidente Jair Bolsonaro. Nos stories, compartilhou uma foto da bandeira do Brasil e escreveu: "Vote 22, Bolsonaro presidente". A postagem foi apagada horas depois. Investigado por improbidade por apoio a Bolsonaro, Silvinei foi exonerado do cargo em dezembro.
A convocação de Silvinei foi feita durante a última sessão da CPMI, quando o colegiado bateu o martelo para ouvir 36 pessoas nessa primeira fase - em sua maioria pessoas ligadas ao ex-presidente Bolsonaro. O requerimento para convocá-lo foi feito pela senadora e relatora Eliziane Gama (PSD-MA), mas outros três documentos também solicitavam a sua oitiva, sendo eles apresentados pelos senadores Ana Paula Lobato (PSB-MA) e Fabiano Contarato (PT-ES); e pelo deputado federal Rafael Brito (MDB-AL).
*Com Estadão Conteúdo