Ouvir rádio

Pausar rádio

Offline
Copa do Mundo: Marrocos enfrenta França em duelo que vai além do futebol
14/12/2022 09:57 em NOTÍCIA

"Não é só futebol". Essa frase tão clichê talvez tenha a sua materialização perfeita nesta quarta-feira, 14, pelas semifinais da Copa do Mundo no Catar. É, de fato, um Mundial que já entrou para a história do futebol por vários motivos e, dentre eles, o fato inédito que mais tem causado impacto nos noticiários e que norteiam as conversas pelas ruas de Doha: a trajetória de Marrocos figurando entre as quatro melhores seleções.

É a primeira vez que uma nação africana alcança tal feito e é a primeira vez também como uma nação majoritariamente árabe.

A trajetória da seleção marroquina, sobretudo no mata-mata, parece ter sido escrita cuidadosamente pela ironia do destino. Uma nação que foi colonizada e amplamente explorada pelos espanhóis, portugueses e, mais recentemente, pelos franceses, exatamente os mesmos adversários nas oitavas, quartas e, agora, na semi.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Sonhando com uma final ainda mais inédita, inimaginável e até surpreendente, a equipe tem pela frente a poderosa seleção francesa, atual campeã mundial. Um confronto mais conhecido fora das quatro linhas do que propriamente dentro, já que foram 44 anos em que Marrocos foi protetorado da França até conseguir a independência, em 1956, que, apesar de ter sido sem uma guerra sanguinária e com fortes laços de cooperação e amizade, hoje os dois países não se entendem mais.

 

As relações estremecidas entre as duas nações têm uma explicação. Os marroquinos não veem com bons olhos a aproximação de França e Argélia, com quem vive um conflito aberto, conhecido como Guerra das Tâmaras. Além disso, Rabat não aceitou a diminuição drástica por Paris dos vistos concedidos a seus cidadãos.

O Le Parisien, jornal francês, crava que “o duelo desta quarta-feira não será somente no plano esportivo”. O periódico caracteriza Marrocos como “o pequeno polegar” diante da “gigante da competição” e cita a principal arma dos marroquinos para surpreender os franceses: “o empurrão de um continente inteiro”.

Desde o início do Mundial, os marroquinos são maioria e também os mais barulhentos. Desde os estádios em dia de jogos, como também no Souq Wakif, um dos pontos turísticos mais movimentados das noites cataris e que se tornou um ponto de encontro de torcedores nos demais dias.

À medida que os Leões do Atlas foram vencendo e até avançando de fase, a torcida ganhou reforço de torcedores oriundos do Marrocos e, principalmente, do povo local e demais nações árabes.

Após o trunfo diante da Espanha, ainda pelas oitavas, a cidade de Doha tremeu em festa. Bandeira marroquina foi projetada nos principais prédios e outdoors eletrônicos da cidade, um buzinaço tomou conta do trânsito e até uma queima de fogos de artifício abrilhantou o céu da capital catari em um espetáculo da altura do feito africano.

A partida desta quarta, de fato, vale muito para as duas nações envolvidas. Por um lado, a França quer se consolidar como potência mundial e ser a terceira seleção a conquistar duas Copas consecutivas, juntando-se a Brasil (1958 e 1962) e Itália (1934 e 1938). Além disso, ainda tem o craque Kylian Mbappé ameaçando o reinado de Pelé como único jogador a ser campeão de três edições do Mundial.

No entanto, certamente não se pode subestimar o tamanho moral que a seleção africana chega a esta decisão: empurrada por 22 nações árabes, mais de 360 milhões de pessoas, vindo de vitórias sobre seus colonizadores e diante do mais poderoso deles.

*Correspondente do O POVO na Copa do Mundo 2022

COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!