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Bolsonaro elogia ação policial que deixou 24 mortos na Vila Cruzeiro
25/05/2022 10:13 em Política

O presidente Jair Bolsonaro (PL) parabenizou a operação policial que deixou pelo menos 24 mortos na Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro. Trata-se da segunda mais letal da história do estado — atrás apenas da operação no Jacarezinho (em maio de 2021, com 27 mortos).

Parabéns aos guerreiros do Bope e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa.

Os policiais são uma importante base eleitoral de Bolsonaro, que disputará a reeleição em outubro. Entre outras coisas, o presidente defende o "excludente de ilicitude", que isentaria o agente de segurança de ser responsabilizado por atos que comete no exercício da função.

Nas redes sociais, Bolsonaro escreveu que a operação estava sendo planejada há meses. A ação policial foi feita pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) em conjunto com a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e teve início por volta de 4h, segundo moradores da Vila Cruzeiro.

Segundo a Polícia Militar, a operação foi executada na terça-feira (24) para impedir que um grupo de criminosos do CV (Comando Vermelho) se movimentasse da Vila Cruzeiro para a Rocinha. O órgão alega ter constatado aumento de lideranças criminosas de outros estados em comunidades do Rio após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que limita as operações policiais em comunidades no estado durante a pandemia de covid-19.

Bolsonaro diz que o plano da PM era prender os "chefões do tráfico" fora da comunidade, "o que não foi possível devido ao ataque da facção, fazendo-se necessário o uso da força para conter as ações".

"Para se ter ideia do grau de violência dos bandidos, parte dos alvos da operação foram responsáveis pelo assassinato de 13 agentes de segurança pública somente em 2022", escreveu Bolsonaro.

Para o ouvidor da Defensoria Pública do Rio Janeiro, Guilherme Pimentel, além de colocar a vida da população em risco, operações nas favelas "gastam rios de dinheiro e não resolvem absolutamente nenhum problema de segurança".

Nas redes sociais, Bolsonaro criticou especialistas em segurança pública, dizendo que eles omitem as informações sobre o perfil dos mortos para "demonizar aqueles que arriscam suas vidas por nós".

Ao longo de um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL) no Rio de Janeiro foram registradas 178 mortes em 39 chacinas, segundo levantamento feito em conjunto pelo Instituto Fogo Cruzado e o Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos), grupo de estudos sobre a violência da UFF (Universidade Federal Fluminense). Castro é aliado do presidente Jair Bolsonaro.

Durante sabatina UOL/Folha realizada na semana passada, Cláudio Castro defendeu a gestão do governo Bolsonaro e culpou a situação do estado do Rio por "anos sem investimento", tanto na área de saúde quanto na de segurança pública.

Entre as vítimas da operação de ontem na Vila Cruzeiro, está Gabrielle Ferreira da Cunha, 41, moradora da Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro, que foi baleada dentro de casa.

A região onde Gabrielle estava fica fora da área de atuação das forças de segurança. Segundo a PM, é possível que ela tenha sido atingida por uma arma de longo alcance.

"Lamentamos pela vítima inocente", escreveu Bolsonaro no Twitter.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro também disse lamentar o que chamou de "inversão de valores de parte da mídia, que isenta o bandido de qualquer responsabilidade, seja pela escravidão da droga, seja por aterrorizar famílias, seja por seus crimes cruéis".

Outra vítima pediu socorro por telefone após ser baleada. Natan Werneck, 21 anos só foi resgatado mais de seis horas depois e morreu a caminho do hospital. O nome dele não consta na primeira lista de mortos divulgada pela PM. Bolsonaro não comentou a morte de Natan nas redes sociais.

O presidente exaltou ainda o fato de a polícia ter apreendido na operação 13 fuzis, quatro pistolas, 12 granadas e "uma grande quantidade de drogas".

MP e MPF anunciam investigação e pedem dados de agentes

O MP abriu um procedimento para investigar as circunstâncias das mortes ocorridas durante a ação policial.

As determinações do órgão foram:

O Bope tem até dez dias para enviar um procedimento que detalhe todos os fatos que ocorreram ao longo da ação;

Todos os policiais que atuaram devem ser ouvidos;

O batalhão deve indicar os responsáveis pelas mortes e esclarecer a licitude de cada uma delas;

O DHPP (Departamento de Homicícios e Proteção à Pessoa), ligado à Polícia Civil, deve fornecer informações sobre os inquéritos policiais instaurados para apurar os fatos.

O MP também recomendou ao DHPP que todas as armas de policiais envolvidos na operação sejam periciadas.

Já o MPF (Ministério Público Federal) também anunciou a abertura de uma investigação criminal para apurar violações cometidas pelos policiais durante a ação.

O órgão fez um requerimento para ter acesso a diversas informações, tais como:

Fichas funcionais dos agentes que participaram da operação, incluindo a qualificação deles;

Relatório final da operação;

Informações e cópias dos mandados de prisão emitidos;

Número da ação penal.

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