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Apoio a nomes do PSB no Nordeste racha o PT e leva até a voto em rivais
Política
Publicado em 21/04/2022

O PT enfrenta racha nos estados do Nordeste governados pelo PSB (e onde este lançou candidatos ao governo), com saias justas para o partido seguir de forma homogênea no apoio aos socialistas. 

Em meio a discordâncias sobre os nomes escolhidos, petistas históricos deixaram a legenda ou até abriram uma frente de rebeldes para apoiar o candidato rival. 

O PSB comanda três estados do Nordeste: Pernambuco, Maranhão e Paraíba. O PT nacional já anunciou apoio a Danilo Cabral, em Pernambuco, e a Carlos Brandão, no Maranhão. 

Na Paraíba, apesar de não haver o apoio formal, o partido sofre com uma disputa interna com a chegada do ex-governador Ricardo Coutinho e de seu grupo. O diretório local está ainda em processo de decisão sobre a disputa pelo governo do estado. 

Petistas lançam apoio a candidato rival no MA 

No caso do Maranhão, o racha é explícito e público. Parte do partido não aceitou o apoio do diretório estadual à candidatura do governador Carlos Brandão, que herdou a vaga com a renúncia de Flávio Dino, após ele se lançar à disputa pelo Senado. 

O grupo decidiu fazer um movimento de apoio ao senador Weverton Rocha (PDT), que também fazia parte da base de Dino, mas decidiu continuar com uma candidatura própria ao governo do estado. 

"Weverton, desde o início da sua militância, sempre teve lado e posição: foi filiado ao PDT —seu único partido— e cumpriu papel importante na banqueta estudantil no nosso estado", afirma Honorato Fernandes, presidente do diretório municipal do PT de São Luís. 

Nesta quarta-feira (20), petistas fizeram um ato de apoio a Weverton em São Luís. Ele recebeu o apoio de entidades com Fetaema (Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão) e outras entidades que apoiavam Flávio Dino. 

Honorato diz que, como deputado e senador, Weverton "acompanhou de forma favorável todas as lutas da classe trabalhadora". 

"Além disso, teve papel importante contra o ataque à democracia com o impeachment da presidenta Dilma [Rousseff]. Na prisão do presidente Lula, foi às ruas contra essa arbitrariedade", diz, citando ainda que ele possui um "alinhamento político ideológico". 

O racha no PT no Maranhão é algo histórico e remonta ainda ao sarneísmo no estado. Em 2010, a base se dividiu entre apoiar Jackson Lago e Flávio Dino. Em 2014, mesmo com o apoio formal do partido a Edinho Lobão (MDB), grande parte dos petistas apoiou a candidatura de Flávio Dino e chegaram a abrir um comitê em São Luís. 

A candidatura do atual governador não tem representado nosso sentimento, até por conta de sua origem e vivência. Ele não esteve ao lado de nossas lutas em momento algum. Pelo contrário, em alguns momentos chamou Lula até de estelionatário." 

Paraíba tem racha histórico 

Na Paraíba, o governador João Azevêdo do PSB se aproximaria mais do ex-presidente Lula, mas não deve garantir o apoio petista no estado —que hoje pende mais para auxiliar a candidatura do senador Veneziano Vital do Rego (MDB). 

O racha entre os partidos veio com o retorno do ex-governador Ricardo Coutinho ao PT. Os dois romperam politicamente ao final de 2019, um ano após Coutinho indicar e fazer campanha par Azevêdo ao governo. 

Em 2020, o PT já dava sinais de racha. O partido chegou a decidir ter candidato próprio à Prefeitura de João Pessoa. Anísio Maia teve seu nome rifado pelo diretório nacional que interveio no diretório municipal e determinou coligação e apoio a Ricardo Coutinho (que à época estava no PSB). 

Com a chegada de Coutinho, Anísio deixou o partido e se abrigou no PSB. Mesmo assim, parte do diretório municipal mantém apoio a João Azevêdo. 

"O PT teve, nesse período de governo, uma posição ambígua: primeiro apoiou João, depois foi para a oposição, mas alguns setores seguiram apoiando", explica José Henrique Artigas, cientista político do Departamento de Ciências Sociais da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). 

Para ele, a situação no PT é "tensa" na Paraíba, já que a chegada de Ricardo Coutinho mudou a configuração do partido no estado. 

"Coutinho não foi só: ele levou os deputados, e o PT pulou de um para cinco estaduais. Essa recomposição gerou essa conflituosidade das duas legendas, que mudaram de perfil", diz. 

Como os deputados estaduais têm assento garantido no diretório, ele vê como inviável, no atual cenário, um apoio do PT à reeleição de João Azevêdo. 

"Existe uma oposição entre os diretórios estadual e municipal. Anísio saiu por falta de alternativa", completa. 

 

Hoje, com a bênção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT está inclinado a apoiar Veneziano. "Precisamos juntar mais gente que queira ajudar a gente no estado. Estamos no processo de conversação", disse o ex-presidente em entrevista à rádio Espinharas, de Patos, no dia 22 de março. 

Ao lado de Lula, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), discursa em ato da caravana petista - Beto Macário/Colaboração para o UOL - Beto Macário/Colaboração para o UOL

O cientista político diz ainda que, diante do racha entre Azevedo e Coutinho, seria uma contradição o PT apoiar a reeleição e aposta que isso não irá ocorrer na eleição estadual de 2022. 

"Para o PT é muito mais interessante se aliar com o MDB, porque ele tem alianças acertadas em vários estados do Nordeste e isso pode agregar mais; já o PSB não vai agregar nada, porque João já se diz favorável a Lula", comenta. 

Pernambuco teve saídas e apoio a rival 

Em Pernambuco, o apoio do PT ao PSB foi ratificado com a mão de Lula, mesmo após uma intensa troca de farpas na disputa pela Prefeitura do Recife em 2020. O apoio aos socialistas levou Marília Arraes a deixar o PT e ir para o Solidariedade, onde é pré-candidata ao governo do estado. 

Deixaram o PT pessoas próximas à deputada federal, como o ex-prefeito de Serra Talhada Renato Duque. Nesta semana, o prefeito petista de Orocó, George Gueber, anunciou apoio a Miguel Coelho (União Brasil) na disputa pelo governo pernambucano, dizendo que o "momento é de mudança". 

 

 Marília Arraes apoia Lula, mesmo deixando o PT                              - PH Reinaux/Solidariedade                             - PH Reinaux/Solidariedade

"Não acho que a rebeldia [de petistas] ao PSB morra com a saída da Marília Arraes, mas acho que ficará mais amena e muito fácil de ser controlada pelas lideranças pró-aliança, sob o comando do senador Humberto Costa, que já esteve com o PSB nas últimas eleições ", diz o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco Túlio Velho Barreto. 

"A tendência é ser uma resistência ou rebeldia mais silenciosa", completa. 

Para ele, mesmo com apoios pontuais de algum prefeito ou liderança local do interior, a tendência é que nenhuma liderança com maior visibilidade, como a de Marília Arraes, se manifeste contra isso. 

Ele afirma que Marília Arraes representava o "único e último foco de resistência à reprodução da aliança nacional no plano estadual". "Ainda que a aliança PT-PSB não seja a melhor opção ou a opção ótima para determinados segmentos da base partidária, geralmente mais refratária a essa aliança", diz. 

Uma das queixas à aliança é que o deputado federal Danilo Cabral é um dos socialistas que, em 2016, votou na Câmara pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mais que isso, ele era secretário de Planejamento de Pernambuco e foi exonerado somente para retomar ao seu posto na Câmara e votar pela saída da petista.

 Paulo Câmara e o pré-candidato ao governo de PE Danilo Cabral em encontro com Lula                              - Ricardo Stuckert/PT - Ricardo Stuckert/PT

A essa altura da disputa, em que o PT nacional buscou e bancou o ex-tucano Geraldo Alckmin para ser o candidato a vice-presidente, não me parece que o fato de o PSB ter cerrado fileira e contribuído para a saída da presidenta Dilma Rousseff tenha algum peso nas disputas locais."Túlio Velho Barreto, cientista político 

Ainda de acordo com o pesquisador, a eleição dos estados do Nordeste deve se configurar mais por acordos locais do que por imposição de direções nacionais. "Eventuais divisões internas do PT nestas eleições, sobretudo no Nordeste, têm resultado de disputas políticas locais", afirma. 

"No caso de Maranhão e Paraíba, se permanecerem as resistências iniciais de segmentos do PT para apoiar os candidatos preferidos pela nacional do partido, em função da disputa presidencial, isso será mais em decorrência mesmo do quadro político local em cada estado, das disputas históricas locais. E talvez a tendência é que sejam superadas", destaca. 

 

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