A declaração pegou Moro durante viagem ao Rio Grande do Sul, em que participa de eventos. Até agora, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro tem se colocado em palestras e discursos como candidato ao Palácio do Planalto. Mas Moro está desgastado.
Seu desempenho ruim nas pesquisas, a saída repentina do Podemos — em que deixou um rastro de ressentimentos e dívidas — e a pregação a favor da antipolítica que desagrada colegas, enfraqueceram as possibilidades de que ele seja um nome viável para uma terceira via. Nos primeiros meses como possível candidato, Moro conseguiu apenas aumentar a sua rejeição. Usou a política para se promover mas atuou com práticas duvidosas, causando desconfiança.
O que se apresenta com mais força ao ex-juiz é a candidatura a deputado federal por São Paulo, oportunidade mais adequada ao seu tamanho político. É também uma jogada interessante para o União Brasil no xadrez eleitoral: Moro disputaria com nomes fortes como Guilherme Boulos (PSOL) e Eduardo Bolsonaro (PL) e atuaria como um puxador de votos para a nova sigla, fusão entre o DEM e o PSL, que encolheu com a janela partidária.
São as voltas que a política dá. As eleições majoritárias ainda são muito maiores do que a envergadura atual do ex-juiz. Encolhido a seu tamanho, uma boa atuação de Moro na Câmara, caso seja eleito, faria com que ele saísse maior do que entrou.
Pessoalmente, a disputa a deputado federal também pode ser melhor opção. A política é o que resta ao ex-juiz, que abriu mão da carreira na Justiça ao assumir o ministério de Bolsonaro e perdeu credibilidade diante das reações negativas sobre sua atuação na Lava Jato. Perdeu tudo, mas pode sair vencedor. Isso se Moro demonstrar alguma habilidade entre os deputados, caso seja eleito.
Há um ano, Mandetta e Moro se expressavam como potenciais nomes à Presidência, seriam respostas do campo "nem Lula, nem Bolsonaro". Hoje, ambos precisaram reduzir expectativas para tentar uma entrada no tabuleiro mais apropriada à realidade e menos ao ego. É esse mesmo dilema que se impõe aos candidatos de hoje da terceira via, como Simone Tebet (MDB), Eduardo Leite (PSDB) e João Doria (PSDB): a chegada de Luciano Bivar à disputa pressiona a decisão por uma candidatura única e uma possível coligação com o União Brasil, que pode ser inevitável.
Quanto mais o calendário eleitoral se estabelece, mais a realidade se coloca. Ganha quem for mais hábil.