O ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) lidera a corrida para o Governo de São Paulo, aponta a primeira pesquisa do Datafolha com o cenário eleitoral para outubro mais depurado.
A presença ou não do ex-governador Márcio França (PSB) no pleito é hoje o fator mais importante para a definição do perfil da disputa.
O instituto ouviu 1.806 moradores de 62 cidades paulistas nesta terça (5) e quarta (6). A margem de erro do levantamento, registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o número SP-03189/2022, é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
No cenário em que o ex-governador concorre, Haddad tem 29%, França tem 20%, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), 10%, e o agora governador Rodrigo Garcia (PSDB), 6%, empatados no limite da margem de erro.
Abaixo, vêm o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSD) e o deputado federal Vinicius Poit (Novo) com 2%, também empatados no limite da margem com Rodrigo, e o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub (PMB) e o metroviário Altino Junior (PSTU), com 1%.
Brancos, nulos ou nenhum somam expressivos 23%, e 7% dizem não saber em quem vão votar.
Esse cenário tem sido visto como interessante pelo PT, pois daria dois palanques para Lula (Haddad e França) e colocaria obstáculos para o crescimento visto como inevitável de Rodrigo, que acaba de assumir o governo, no campo à direita.
Isso fica claro observando a situação em que França deixa a disputa, algo que ele nega no momento. O petista segue na frente com 35% e a segunda colocação é dividida por Tarcísio e Rodrigo, ambos com 11%, mostrando a divisão dos votos do nome do PSB entre o ex-prefeito e o governador.
Atrás deles vêm Felício (3%), Altino (2%), Poit (2%) e Weintraub (1%). Novamente, alto índice de insatisfeitos com os nomes agora: 26% de brancos, nulos ou nenhum.
A eleição ainda não pegou, como se diz: na declaração espontânea de voto, 67% dizem não saber em quem vão votar. Nela, Haddad tem 6%, Tarcísio tem 5% e Rodrigo, 1%. Nomes fora da disputa aparecem, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 2%, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 1%.
A rodada anterior havia sido feita de 13 a 16 de dezembro, quando o ex-governador Geraldo Alckmin ainda não tinha trocado o PSDB pelo PSB para ser vice de Lula na disputa presidencial, e Guilherme Boulos (PSOL) ainda mantinha sua candidatura estadual.
Outros nomes, como o de Felício, não estavam no páreo. Assim, estatisticamente não há como comparar a evolução dos dois levantamentos.
Para Haddad, a situação por ora é confortável para o primeiro turno, mas ele pontua a mais alta rejeição entre os candidatos.
É consenso nos meios políticos que a disputa paulista, salvo reviravolta que a vista não alcança, irá para o segundo turno.
O desenho da disputa depende da presença ou não de França, que tem de todo modo sua pontuação atribuída até por aliados ao grande recall: quase foi eleito governador na disputa da rodada final contra João Doria (PSDB) em 2018 e disputou a prefeitura paulistana em 2020, ficando em terceiro lugar.
Neste caso, se França for ultrapassado por Rodrigo ou Tarcísio no embate presumido com Haddad, os problemas se agravam para o petista, dado que haverá uma aglutinação de votos na centro-direita.
Rodrigo, que assumiu o Palácio dos Bandeirantes na sexta passada (1º), tem a seu favor a máquina estatal e um pacote de R$ 50 bilhões em obras que ele costurou com Doria. Além disso, é muito desconhecido ainda e tem rejeição mínima.
Mas ele carrega o peso da rejeição de Doria em São Paulo. Neotucano, filiado no ano passado após uma vida no DEM (hoje União Brasil), ele já indicou o caminho de descolamento no primeiro vídeo de apresentação que fez, sem citar o antecessor ou mesmo sua sigla.
Preferiu falar em "Meu partido é São Paulo", ecoando o "Meu partido é o Brasil" de Bolsonaro em 2018. A ameaça de Doria de desistir da corrida presidencial e ficar na cadeira para seu então vice concorrer sem cargo gerou grande ruído na semana passada.
O atual presidente tem em Tarcísio seu nome no estado, vital para as pretensões nacionais de polarizar o pleito com Lula. O cenário para o ex-ministro da Infrestrutura é semelhante ao de Rodrigo: baixo conhecimento, baixa rejeição e um padrinho problemático, mal avaliado em São Paulo.
O cheiro da rivalidade entre os dois nomes já é perceptível: Rodrigo operou uma adesão de pelo menos metade do PL paulista, que apoia Tarcísio, à sua candidatura logo na primeira semana no cargo, sugerindo as dificuldade que o ex-ministro, sem experiência político-partidária, terá.
Do ponto de vista de perfil do eleitorado de cada candidato, há uma grande homogeneidade aferida pelo Datafolha.
O líder Haddad só tem uma declaração de voto mais polpuda, cerca de dez pontos acima da média nos dois cenários, entre os jovens de 16 a 24 anos, que compõem 16% da amostra populacional da pesquisa.
Vai na mesma linha, como em outras campanhas das quais participou, entre pessoas com nível superior e os mais ricos. Seu ponto mais vulnerável é um desempenho algo mais fraco no interior.
França é bastante linear em sua intenção de voto. Já Tarcísio dobra sua intenção entre os mais ricos, que ganham mais de 10 salários mínimos por mês, mas formam apenas 3% da amostra.
Terá de se preocupar com o voto feminino: entre as mulheres, 53% das pessoas ouvidas, ele marca 5% na simulação com França, ante 15% entre homens. O cenário mais fechado, 6% a 17%, respectivamente.
O governador Rodrigo, assim como França, tem um apoio homogêneo. O principal destaque é, na simulação sem França, uma intenção de voto maior entre os mais jovens (17%).
Repetindo o que ocorre nos cenários presidenciais, Tarcísio pontua melhor entre empresários (de 23% a 26%, universo de 3% dos ouvidos), enquanto Haddad reina entre estudantes (de 46% a 52%, grupo que compõe 4% da pesquisa). Diferentemente o corte nacional, a religião do entrevistado não tem impacto significativo nos números.
Após o registro da pesquisa, o PDT decidiu lançar o ex-prefeito de Santana do Parnaíba Elvis Cezar pré-candidato ao governo. Por isso, seu nome não está neste levantamento.