Segundo auxiliares palacianos, o chefe do Executivo está bastante irritado com o imbróglio envolvendo a Petrobras, e o desgaste está sendo atribuído principalmente ao ministro.
A avaliação é a de que houve açodamento ao apresentar um nome que, pouco depois, não se sustentou. Agora, a palavra de ordem no Planalto é discrição quanto aos próximos indicados.
O adiamento da assembleia ainda é considerado uma opção no governo. Mas, por essa proposta, o general Silva e Luna, demitido por Bolsonaro, continuaria no cargo por tempo indefinido, até a aprovação dos novos nomes.
Adriano Pires declinou o convite seguindo a decisão de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo indicado para presidir o conselho de administração da petroleira.
Diante da dificuldade do ministro em encontrar dois nomes para compor a diretoria da empresa, uma das propostas apresentada foi adiar a assembleia geral de acionistas –que irá definir a nova composição da diretoria da Petrobras no próximo dia 13– e seguir por mais um tempo com o general Joaquim Silva e Luna no comando.
O Planalto já divulgou que Silva e Luna não ficará mais à frente da Petrobras e o próprio general se manifestou dizendo-se traído pela forma como o processo foi conduzido.
A saída apresentada por Bento irritou ainda mais Bolsonaro.
Assessores do Planalto afirmam que o presidente soltou até palavrões ao se referir ao ministro na última segunda-feira (4), quando Bento ainda tentava buscar uma saída para manter a indicação de Adriano Pires.
Bolsonaro avaliou que Bento foi inábil politicamente e que caberia a ele barrar a indicação de Pires sabendo que ele não passaria pelo crivo do comitê de pessoal da Petrobras.
Adriano Pires é dono da CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), consultoria que atende empresas que até se envolveram em disputas com a Petrobras.
Para Bolsonaro, aceitar essa indicação seria assumir um risco elevado demais durante a campanha pela reeleição.
As comparações com a gestão do PT, que segundo o governo aparelhou a empresa para malfeitos, seria inevitável e indefensável, ainda segundo relatos.
Sem citar nomes, um desses interlocutores disse que um dos convidados recusou o convite do ministro porque seus indicados já seguem sob suspeita no Planalto e que essa situação fragilizou demais Bento Albuquerque.
Avaliam ainda que o ministro não tem mais condições de resistir a possíveis intervenções do Planalto na política de preços da Petrobras. Por isso, preferem ficar fora desse jogo.
Embora não queria se envolver novamente com a indicação de um presidente para a Petrobras, Guedes defende seu secretário, segundo assessores.
No entanto, Caio aparece envolvido em um processo judicial em que uma das empresas, a Conclusiva Empreendimentos e Participações, levanta suspeita de que o secretário possa ter se valido do cargo para vasculhar seus dados financeiros para repassá-los a outra companhia que pertence a um amigo do ministro Paulo Guedes e com quem a Conclusiva trava uma batalha jurídica.
Bento se desgastou também com Guedes, que não gostou da proposta defendida pelo ministro —e que tramita no Congresso—, de criar subsídios para conter a alta dos combustíveis.
Na ala política, Bento também mede forças com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-RN), que, para agregar o apoio do centrão, quer indicar nomes para agências reguladoras ligadas ao Ministério de Minas e Energia (como ANP e Aneel), estatais elétricas, como Itaipu, e a Petrobras.
Partidos do centrão são a base de apoio do governo e devem encampar a campanha de Bolsonaro pela reeleição.