A conduta do presidente elevou a pressão sobre integrantes do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) diante das restrições legais, no mesmo fim de semana em que seu partido questionou suposta propaganda eleitoral irregular em benefício de Lula no festival do Lollapalooza.
A legislação eleitoral só permite campanha a partir de 16 de agosto. Comícios não são autorizados até lá. Eventos públicos de lançamento de pré-candidatura, situação não prevista na lei e semelhante ao de Bolsonaro neste domingo, também são vetados.
Especialistas ouvidos pela Folha, incluindo um ex-ministro do TSE que pediu anonimato, identificaram no evento deste domingo com Bolsonaro elementos de campanha antecipada.
Para eles, apresentar-se como candidato, fazer menções ao pleito e a seu principal adversário e pedir apoio da plateia são elementos que, fora do cronograma eleitoral, configuram a campanha extemporânea.
O evento pode motivar apuração por abuso de poder econômico, procedimento que, embora improvável na prática, em tese poderia ser capaz de inviabilizar uma candidatura e ser avaliado em conjunto com outros atos de Bolsonaro típicos de campanha ao longo dos últimos meses, como as motociatas.
"O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é luta da esquerda contra a direita, é do bem contra o mal. E nós vamos vencer essa luta, porque estarei sempre na frente de vocês", disse.
O chefe do Executivo fez um discurso com roupagem de candidato à reeleição, ainda que isso não tenha sido mencionado.
"Se é para defender a democracia, a liberdade, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja. E a certeza do sucesso é que eu tenho o exército ao meu lado. Este exército é composto de cada um de vocês", disse.
Em outro momento, Bolsonaro afirmou que, às vezes, "embrulha o estômago ter que jogar dentro das quatro linhas [da Constituição]", mas que o faz.
"Por vezes, me embrulha o estômago ter que jogar dentro das quatro linhas [da Constituição], mas eu joguei e não foi da boca para fora. E aqueles que estão do meu lado, todos, em especial os 23 ministros, eu digo isso, vocês têm a obrigação de, juntamente comigo, fazer com que quem esteja fora das quatro linhas seja obrigado a voltar para dentro."
Esta não é a primeira vez que ele fala sobre quem atua fora da Constituição. Costuma usar a expressão como referência velada a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Realizado em Brasília no Centro de Convenções Internacional do Brasil, que se apresenta como o maior centro de convenções da América Latina, o evento do PL contou com a presença de parlamentares, ministros e apoiadores do presidente.
Em meio à crise que envolve a atuação de pastores na liberação de verbas do MEC (Ministério da Educação), Bolsonaro não fez menções diretas ao ministro Milton Ribeiro, alvo de investigação, mas afirmou que "buscam qualquer gota d'água para transformar num tsunami".
"Todos nós somos humanos. Podemos errar. Quem nunca errou que está na plataforma neste momento?", disse no palanque.
No fundo do palco havia uma foto do presidente entre apoiadores com os dizeres: "Capitão do povo". O slogan "É com ele que eu vou" também foi explorado no ato.
Se há quatro anos Bolsonaro fez campanha com menos recursos, o evento deste domingo serviu para mostrar que, em 2022, ele contará com outra realidade. O ato desta manhã foi organizado e teve estrutura diferente do passado.
Os organizadores alteraram o material de divulgação e passaram a chamar o evento de "Movimento Filia Brasil".
Mesmo assim, Bolsonaro disse no sábado (26) o evento seria "o lançamento da pré-candidatura", indicando o clima de campanha adotado neste domingo.