O mistério sobre a venda dos imóveis do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) no Rio de Janeiro continua. No dia 2 de março, após a divulgação da compra de uma mansão de quase R$ 6 milhões, o senador disse que usou parte da venda de um imóvel no Rio para pagar a transação. Mas a coluna apurou até o momento que a única venda já registrada pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro é a de uma sala comercial no valor de R$ 265 mil.
A coluna pesquisou junto aos cartórios do Rio de Janeiro e verificou que, no dia 23 de março deste ano, o senador vendeu uma sala comercial que ele tinha no Shopping Via Parque, na Zona Oeste do Rio. O comprador foi o advogado Luiz Eduardo Abilio Bastos e o pagamento se deu por meio de transferência eletrônica.
Essa sala o senador obteve como parte do pagamento da venda de um apartamento em Laranjeiras em 2017. Na época da permuta, foi atribuído um valor maior para a sala: R$ 300 mil. Procurado pela coluna, Bastos disse que soube da venda do imóvel por uma imobiliária e que pagou um valor de mercado compatível com a situação do país devido à pandemia, além de assumir pagamentos de impostos que estavam atrasados. "A sala é bonitinha, o estacionamento é barato e o imóvel não tinha nenhum impedimento. Os impostos foram pagos e está tudo dentro da legalidade", afirmou Bastos.
O imóvel fica no mesmo complexo do shopping onde Flávio tinha uma franquia de uma loja de chocolates até o início do ano. No entanto, não é o imóvel onde funcionava a loja. Flávio e o sócio, Alexandre Santini, encerraram as atividades da loja e hoje o local está sob responsabilidade da própria Kopenhagen. Procurado, o senador não comentou.
O senador ainda tem um apartamento que fica de frente para a praia da Barra da Tijuca, a cerca de 600 metros do condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro e o irmão do senador, Carlos, possuem residência. Ele foi comprado por R$ 2,55 milhões e era onde Flávio e a família moravam antes de se mudarem para Brasília. Quando o senador falou sobre o dinheiro usado para pagar a mansão, ele fez referência a esse apartamento.
O imóvel foi um dos pontos importantes da investigação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) no caso das "rachadinhas" da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Os investigadores verificaram que, pelo menos, R$ 295,5 mil usados para quitar os boletos da compra do imóvel vieram a partir de depósitos sem origem identificada.
Os dados foram verificados a partir da quebra de sigilo bancário de Flávio e Fernanda Bolsonaro. No entanto, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou a autorização para quebra alegando falta de fundamentação do juiz que permitiu a medida. O MPF e o MP-RJ recorrem da decisão.
Em nota divulgada para a imprensa, em 2 de março, o senador afirmou que "a casa adquirida pelo senador Flávio Bolsonaro em Brasília foi comprada com recursos próprios, em especial oriundos da venda de seu imóvel no Rio de Janeiro". No vídeo, o senador disse que fez um instrumento particular de compra e venda e a escritura pública estava aguardando a elaboração das certidões.