FOTO COM CABEÇAS DE PRESOS EM SACO DECAPITADOS EM PRESÍDIO NO PARÁ
Foi sob forte choro e gritos de desespero que familiares de presos do Centro de Recuperação de Altamira, no sudoeste do Pará, ouviram a lista de mortos confirmados da rebelião que matou ao menos 57 pessoas nesta segunda-feira (29).
A doméstica Maria José Borges rezava em voz alta, pedindo pela vida do filho preso. “Eu preciso saber informação, pelo menos que me digam se tá morto, porque não me falam, eu sei que ele errou, mas ele é humano, eu preciso saber alguma coisa”.
No fim da tarde, uma assistente social da unidade se aproximou da mureta que isolava as famílias.
Com uma lista nas mãos, ela chamou a todos, e começou a ler os nomes. Oito lidos foram até que o silêncio fosse quebrado pelos gritos de desespero de Josenita Irineu Gomes, ao ouvir o nome do irmão, Josivan Irineu Gomes. “Ele não, ele não meu Deus, o que eu vou fazer agora, o que eu vou dizer pra minha mãe!”, repetia, inconsolável.
A voz da assistente social pouco a pouco era menos nítida com o grito e choro dos parentes que ouviam a leitura dos nomes. Na lista, havia 16 mortos confirmados e os demais ainda com a identidade em apuração.
Dos assassinados, ao menos 16 foram decapitados. Os corpos devem ser levados diretamente para o IML de Belém —o núcleo de medicina legal em Altamira funciona em um pequeno espaço. A Susipe não deu detalhes da forma como estão acondicionados, desde a manhã, os corpos dos mortos na unidade prisional. Um caminhão frigorífico, com o nome da empresa coberto por sacos pretos, chegou no fim da tarde.
O superintendente Jarbas Vasconcelos foi ao presídio de Altamira pela tarde e voou de helicóptero sobre a área do presídio. Por volta das 16h, ele se reuniu com a direção da unidade e agentes de segurança. Depois, saiu sem falar com a imprensa.
Segundo o Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), a rebelião começou por volta das 7h, durante o café da manhã.
O motivo do massacre é uma disputa entre duas facções criminosas pelo controle da unidade prisional de Altamira, segundo o governo do Pará.
O Comando Classe A (CCA) é adversário da facção carioca Comando Vermelho (CV), quem vem se expandindo no Norte por meio de alianças regionais e da perda de poder na região do Primeiro Comando da Capital (PCC), alvo do massacre do Ano Novo de 2017 nos presídios de Manaus.
Sempre de acordo com a versão oficial, membros do CCA colocaram fogo na cela de um pavilhão controlado pelo CV. A maioria das 57 mortes ocorreu por asfixia, e outros 16 internos foram decapitados.
“Foi um ato dirigido. Os presos chegaram a fazer dois agentes reféns, mas logo foram libertados, porque o objetivo era mostrar que se tratava de um acerto de contas entre as duas facções, e não um protesto ou rebelião dirigido ao sistema prisional”, afirmou o superintendente do Susipe, Jarbas Vasconcelos, em nota à imprensa.
A PM conseguiu conter a rebelião e faz ao longo do dia uma vistoria para recontar os detentos e avaliar os danos à unidade.
O Centro de Recuperação Regional de Altamira já havia sido palco de uma rebelião em setembro do ano passado, que terminou com sete pessoas mortas.
Relatório do CNJ mostrou que a unidade tem condições classificadas como “péssimas”. Além de superlotada —343 cumpriam pena no local, mais que o dobro da sua capacidade, de 163 vagas—, inspeção do conselho detectou que “o quantitativo de agentes é reduzido frente ao número de internos custodiados”.
O CNJ também constatou que a penitenciária não tem bloqueador de celulares, enfermaria, biblioteca, oficinas de trabalho ou salas de aula.
O Pará, quarto estado mais violento do país, vem registrando o avanço das milícias, fenômeno que só encontra paralelo no Rio.
Reportagem recente da Folha mostrou que em nenhum outro estado brasileiro organizações criminosas comandadas por policiais e ex-policiais estão tão organizadas, estruturadas e dominam áreas tão vastas.
Segundo investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do estado, os milicianos dominam o transporte alternativo em várias regiões, a venda de gás em diferentes favelas, a oferta de serviços de TV a cabo, a venda e transporte de produtos contrabandeados e serviços de segurança. Além disso, controlam parcela considerável do tráfico de drogas local, rivalizando com as facções criminosas. (Karina Pinto/Folha de SP)
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