A vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta em março de 2018 por atrapalhar os interesses dos irmãos Brazão, segundo a Polícia Federal. Relatório de investigações aponta essa como a motivação do crime, que também tirou a vida do motorista Anderson Gomes.
O que aconteceu
'Obstáculo'. Segundo Ronnie Lessa, autor dos disparos contra Marielle, o planejamento para matar a vereadora começou em setembro de 2017 porque ela representava "um obstáculo aos interesses dos irmãos". Chiquinho era vereador no Rio, assim como Marielle, enquanto Domingos já atuava como conselheiro do Tribunal de Contas do estado.
Milícia. Lessa relatou, na delação premiada, que as reclamações de Domingos Brazão sobre Marielle teriam aumentado desde as primeiras conversas. Os irmãos constantemente se queixavam, segundo a PF, da relação que a vereadora mantinha com lideranças comunitárias contra loteamentos de milícias no Rio, em áreas em que os dois tinham influência.
PLC 174. As investigações apontam que a tensão entre políticos do PSOL, incluindo Marielle, e os irmãos Brazão piorou no segundo semestre de 2017, quando ela se posicionou contra o PLC (Projeto de Lei Complementar) 174/2016, apresentado por Chiquinho. A proposta, que flexibilizava as regras de ocupação do solo, acabou aprovada na Câmara no dia da morte de Marielle, mas o Tribunal de Justiça do RJ considerou mais tarde a lei inconstitucional.
Infiltrado no PSOL. A animosidade entre os Brazão e Marielle era abastecida pelas informações colhidas por um infiltrado da dupla no PSOL, segundo a PF. Laerte Silva de Lima repassava informações a Edmilson Macalé e Ronnie Lessa, contratados para matar a vereadora.
Laerte teria "enfeitado o pavão", segundo Lessa, e inventado informações para repassar ao grupo. A ideia era se sobrevalorizar, "levando os irmãos ao equivocado superdimensionamento das ações políticas de Marielle Franco nesta seara".
Recompensa em lotes. Ronnie Lessa também afirmou aos policiais que os irmãos Brazão prometeram que ele ganharia lotes em um empreendimento imobiliário na capital fluminense como pagamento pelo assassinato. "O próprio pagamento aos executores seria por meio de lotes oriundos de grilagem e permissão para exploração da atividade de milícia no local", diz trecho do relatório da PF.
'Direito à moradia'. A PF analisou que a atuação de Marielle em relação à moradia era prudente, levando em conta o risco que a pauta trazia. "O motivo determinante de sua morte estaria relacionado a uma questão desempenhada de maneira mais discreta pelo seu mandato parlamentar, qual seja: a defesa do direito à moradia".
Operação da PF
A PF prendeu ontem (24) suspeitos de serem os autores do assassinato de Marielle. Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão (suspeitos de serem mandantes) e Rivaldo Barbosa (suspeito de planejar o crime e obstruir as investigações) foram transferidos para um presídio federal em Brasília.
Os irmãos Brazão são suspeitos de serem os "autores intelectuais" dos homicídios. Os crimes também incluem a tentativa de assassinato de Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que estava no carro no dia do assassinato. Rivaldo foi detido por obstrução de justiça e por ser a mente por trás do planejamento, segundo a PF.
A PF cumpriu outros 12 mandados de busca e apreensão no Rio. Também foram feitas buscas contra o ex-titular da Delegacia de Homicídios da Capital Giniton Lages, além do comissário Marcos Antônio de Barros Pinto, e da esposa de Rivaldo, Erika de Andrade de Almeida Araújo.
Domingos Brazão nega envolvimento com a morte de Marielle. O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, disse que tem "certeza que ele é inocente". "Ele não tem ligação com a Marielle, não conhecia."
A assessoria de imprensa do conselheiro disse que ele foi "surpreendido" com a determinação do STF. "Desde o primeiro momento sempre se colocou formalmente à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos que entendessem necessários". O deputado federal disse que não há "qualquer motivação que possa lhe [sic] vincular ao caso e nega qualquer envolvimento com os personagens citados".
A defesa do delegado Rivaldo disse ao UOL que ainda não teve acesso aos autos nem à decisão que decretou a prisão. Portanto, não vai se manifestar.
Pedro Vilas BoasDo UOL, em São Paulo