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Membros de terreiro de matriz africana apontam 'intolerância religiosa' praticada por integrantes de igreja evangélica em São Luís
13/09/2023 08:58 em NOTÍCIA

 

Caso aconteceu na manhã de domingo (10), no bairro Itapera de Maracanã, na zona rural de São Luís. Em imagens divulgadas, membros de igreja evangélica proferem palavras ofensivas contra os integrantes da casa.

Integrantes do Terreiro de Mina do pai de santo, Nery da Oxum, casa de matriz africana, registraram nesta segunda-feira (11), um boletim de ocorrência contra um grupo de evangélicos suspeitos de praticar intolerância religiosa. O caso aconteceu na manhã de domingo (10), no bairro Itapera de Maracanã, na zona rural de São Luís.

De acordo com as primeiras investigações, um grupo de religiosos, liderado por um pastor da Assembleia de Deus Missões campo Tirirical, se posicionou em frente ao terreiro de mina Nery da Oxum, com um carro de som proferindo palavras ofensivas contra os integrantes da casa. Veja o vídeo acima.

Durante a oração, eles falaram palavras ofensivas contra o terreiro. As imagens que registraram a agressão, foram registradas por celular. No vídeo, os integrantes da igreja evangélica dizem "Vai, entrando, eu te peço, liberta Senhor, cachaceiro, maconheiro, macumbeiro, Senhor".

A denúncia foi registrada pelo pai de santo, Nery da Oxum, na Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância e Conflitos Agrários. Por lei, é considerado crime a prática de intolerância religiosa.

"A gente veio registrar [o boletim de ocorrência] e a gente quer resposta. A gente quer reposta porque não isso pode. A gente não sai da nossa casa para ir para porta de qualquer que seja um culto, igrejas, a gente tem nossas religiões em casa e não precisamos fazer isso o que eles estão fazendo", disse o pai de santo.

Revoltados e indignados com a situação, demais membros da casa de matriz africana também estiveram na delegacia prestando apoio e reforçando a denúncia sobre o caso.

"Nós queremos respeito pela nossa religião. E nós não vamos parar enquanto não houver uma resposta certa, dos órgãos certos, para poder nos proteger e nos defender dessas pessoas que não são líderes religiosos, mas são pessoas que estão ali para proclamar o racismo, a intolerância religiosa e tudo aquilo que nós não concordamos de forma alguma", disse Mateus Iansã, filho de santo do Terreiro de Pai Nery da Oxum.

Procurados, membros da Assembleia de Deus Missões campo Tirirical, cujo são os responsáveis pelo ato de intolerância religiosa, mas eles não se manifestaram.

Após a repercussão do caso, a Comissão de Liberdade Religiosa da OAB do Maranhão, disse em entrevista ao JM1 que está acompanhando o caso.

"Nós tivemos ali atos visíveis de intolerância religiosa. É o reflexo de uma intolerância que é fruto de um racismo que está atrelado ali. As religiões de matriz africana são os que mais sofrem com isso. Neste caso, está tipificado o crime de racismo, mas é claro que a autoridade policial vai analisar as provas para que elas possam ser enviadas para o Ministério Público", explicou Alda Fernanda Bayma, presidente da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB do Maranhão.

Vandalismo contra estátua

O Brasil registrou um aumento de 45% nos casos de intolerância religiosa. E este, não é o primeiro crime de intolerância religiosa registrado no Maranhão.

Em julho, a imagem de Iemanjá, localizada na Praia do Olho d'Água, em São Luís, foi depredada e alvo de intolerância religiosa. Vândalos quebraram o rosto da imagem, o crime foi divulgado nas redes sociais pelo pai de santo Paulo de Aruanda, que também é ativista contra a intolerância religiosa e dos direitos humanos.

A estátua de Iemanjá que é considerada a rainha do mar, na Umbanda e no Candomblé, foi resultado de uma negociação das entidades de matriz africana com o Governo do Estado. O local escolhido é utilizado para fazer oferendas a entidade.

Intolerância religiosa

Em abril do ano passado, um grupo de religiosos também virou alvo de investigação após a prática de intolerância religiosa contra a Casa Fanti-Ashanti, uma das mais tradicionais casas de Tambor de Mina Tradicional e de Candomblé Jeje/Nagô no Maranhão.

Membros do Ministério Gideões Casa de Oração faziam uma marcha pelos 12 anos de aniversário. A programação previa uma caminhada com orações ao ar livre pelo bairro, com parada final em frente a Igreja Pentecostal Jeová Nissi, que fica na Rua Militar. O local fica em frente a casa Fanti-Ashanti.

Um vídeo postado nas redes sociais mostra um carro de som e o grupo da igreja fazendo uma oração. Em frente, membros da Casa Fanti-Ashanti observavam o culto. Membros da casa apontaram intolerância religiosa.

Quatro meses após o caso, uma decisão da Justiça do Maranhão determinou a proibição de perturbação ou interrupção dos cultos religiosos feitos no local. O documento determinou ainda a proibição de manifestações que possam ameaçar, ofender ou agredir as religiões de matriz africana. Na época, foi fixada uma multa de R$ 5 mil em caso de descumprimento.

Por g1 MA e TV Mirante — São Luís, MA

11/09/2023 15h55  Atualizado há um dia

 

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