Rússia acusa Ocidente pelo maior ataque com drones da Ucrânia
Ação em pelo menos seis regiões atingiu quatro aviões de transporte militar pesado; Kiev sofre revide
A Ucrânia promoveu o maior ataque com drones contra o território russo em um ano e meio de guerra com o vizinho, iniciada com a invasão promovida por Valdimir Putin em 2022. Ao menos seis regiões foram alvejadas, e houve danos importantes a quatro aviões de transporte pesado Iliuchin Il-76, o principal cargueiro militar de Moscou.
Nesta quarta (30), o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que os bombardeios só puderem ocorrer em áreas tão diversas e distantes da fronteira ucraniana com apoio de inteligência de países da Otan [aliança militar do Ocidente]. "Os ataques não passarão impunes", disse a porta-voz Maria Zakharova.
Trecho de vídeo do governador de Pskov postado no Telegram mostrando incêndio na base aérea
A ação ocorreu a partir do fim da noite de terça (29, fim da tarde no Brasil), começando em Pskov, 600 km a noroeste da capital. "O Ministério da Defesa está repelindo um ataque de drones contra o aeroporto", afirmou no Telegram o governador local, Mikhail Vedernikov, que postou um vídeo com um grande incêndio, sons de explosões e de sirenes.
Um Il-76 com tropas russas durante um treinamento antes da invasão da Ucrânia, em 2021
Pskov fica a cerca de 60 km da fronteira da membro da Otan Estônia, e pertence a uma região a 800 km da Ucrânia que não havia sido atingida ainda na guerra. Ela sedia uma importante base aérea, e a informação acerca dos danos aos Il-76 foi dada pela agência estatal Tass, sem detalhar o grau do estrago.
Os aviões, de origem soviética, são o esteio da aviação de transporte militar da Rússia, que opera 110 deles. Antes, drones de Kiev haviam danificado e destruído bombardeiros estratégicos empregados nos ataques à Ucrânia em bases dentro do país de Vladimir Putin, e no ano passado metade de uma frota de caças na Crimeia foi destruída.
Devido aos ataques, os voos no aeroporto moscovita de Vnukovo foram suspensos no começo da madrugada de quarta. Segundo a Defesa russa, três drones foram derrubados na região de Briansk, dois em Orlov e outro, em Kaluga.
Houve ao menos um ataque contra Moscou, alvo constante nas últimas semanas de drones. Segundo a prefeitura, um aparelho foi derrubado perto do distrito de Ruzki. Por fim, Riazan também foi atingida.
Em Briansk, apesar dos relatos russos de que não houve grandes danos, vídeos em redes sociais mostraram a explosão de um drone sobre uma fábrica de microeletrônicos. Houve também explosões não identificadas em uma sétima localidade, Tula.
Ainda é incerto que tipo de aparelho foi usado contra Pskov. Os ucranianos têm alguns drones de longo alcance, que podem atingir alvos a mais de mil quilômetros, mas eles são maiores e em tese mais fáceis de serem identificados por defesas aéreas. Já modelos pequenos, de curto alcance, precisam ser lançados de dentro do território russo, sugerindo a infiltração de comandos ucranianos ou a colaboração de rebeldes contrários ao Kremlin.
Nesta semana, o foco parecia direcionado mais à Crimeia anexada, que teve dois dias seguidos com drones sendo abatidos por defesas russas. Ainda nesta madrugada de quarta na região, a Rússia disse que afundou quatro botes de alta velocidade que transportavam soldados de tropas especiais ucranianas para tentar entrar na península.
Kiev ainda não comentou o episódio, que ocorre uma semana depois de uma ação secreta que envolveu a entrada de forças especiais na Crimeia, com direito a hasteamento da bandeira ucraniana, e a destruição de uma poderosa bateria antiaérea S-400 dos russos na região.
Em contrapartida, alarmes de ataque aéreo soaram em toda a Ucrânia durante a noite. Kiev sofreu um dos maiores ataques com mísseis e drones desde o fim do ano passado, e pelo menos duas pessoas foram mortas segundo a prefeitura.
Toda essa movimentação assimétrica ocorre enquanto a Ucrânia sofre para fazer avançar sua contraofensiva, lançada em 4 de junho. Nas duas últimas semanas, o Ministério da Defesa local anunciou a conquista da cidade de Robotine, o que poderia sugerir uma entrada mais incisiva na região de Zaporíjia (sul).
Na prática, contudo, o avanço nem chegou ainda à primeira das três linhas fortificadas dos russos na região. Com o frio lentamente se aproximando e a paciência do Ocidente cada vez mais duvidosa, a ação de Kiev tornou-se uma corrida contra o tempo, que vem sendo temperada com um aumento grande nas ações de impacto mais simbólico.
Se os Il-76 foram destruídos, contudo, há um ganho militar evidente, dada a importância do aparelho para as Forças Armadas do Kremlin. Segundo os relatos iniciais, não houve vítimas nos ataques.