Relator no TSE entregou minha cabeça por vaga no STF e decisão foi combinada, diz Deltan
24/05/2023 08:51 em NOTÍCIA

O STF, quando retirou o caso Lula de Curitiba, foi incoerente em relação às demais decisões que havia tomado na Lava Jato. Se a decisão do STF no caso de Lula fosse aplicada à risca como um novo entendimento, anularia a Lava Jato inteira. Quando o STF decidiu que a competência não podia mais ser da Justiça Federal, eu avisei na época que, se for aplicar esse entendimento a todos os casos, você anularia tudo. Mas estão escolhendo os casos que anulam, estão atuando seletivamente.

Quando eu olho para as decisões do ministro Fachin, ele ficou vencido na imensa maioria dos casos defendendo que os corruptos fossem responsabilizados, foi um grande defensor da responsabilização dos grandes corruptos. O mesmo eu digo em relação ao ministro Barroso, é uma pessoa extremamente coerente ao longo do tempo.

O sr. vê algum paralelo entre a Lava Jato e a atuação do STF, que tem adotado medidas heterodoxas, principalmente em inquéritos sob responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes? O que se discutia na Lava Jato eram nuances, não tinha nada do que está acontecendo hoje.

Na Lava Jato nunca teve prisão que demorasse um mês sem acusação, enquanto a gente teve caso recente de prisão de quatro meses. Nunca teve acusação genérica contra pessoas, sem individualização da conduta, e agora a gente tem aí centenas de pessoas acusadas sem provas específicas.

Nós jamais tivemos decisões censurando empresas. Nunca houve decisões de ofício ou sem que a Lava Jato tivesse competência. Hoje a gente vê decisões do STF sem qualquer perspectiva ou argumento que justifique a competência. A Lava Jato agiu dentro da lei. Agora o que estamos vendo são decisões que ferem o Estado de Direito.

DELTAN DALLAGNOL, 43

Filiado ao Podemos, foi coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal de 2014 a 2020. Deixou o cargo de procurador para disputar as eleições de 2022. Concorreu para deputado pelo Paraná e fez 344 mil votos. Foi cassado pelo TSE por unanimidade sob o argumento de que fraudou a Lei da Ficha Limpa.

 

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