O Maranhão é o estado com o menor incidente proporcional de médicos por habitante, segundo um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ao todo, o estado possui quase oito mil profissionais, o que representa um médico para cada grupo com mil habitantes.
A média nacional é de 2,56 por cada mil habitantes. No interior do Maranhão, a situação é ainda mais grave. A média de médicos por habitante vai para metade, sendo menos de um médico para cada mil pessoas.
"Essa falta absoluta de médicos em alguns locais ela se deve principalmente a questões estruturais. Não existe uma carreira de estado, que interiorize o médico, não existe medidas de trabalho adequadas. Há dificuldades quanto o uso de tecnologia mais recentes. E o ponto fundamental, existe uma insegurança jurídica na relação de trabalho da classe médica, com essas prestadoras de serviço, isso na maioria de prefeituras e serviços públicos, onde o atraso de pagamento é a rotina, onde o pagamento por meses a fio é um dos desafios para que você possa interiorizar esses médicos", explica José Albuquerque, médico e presidente da Associação Médica Brasileira Seccional Maranhão.
Apesar do índice ser baixo, o número dobrou nos últimos 20 anos, devido ao crescimento acelerado de faculdades de medicina. Entretanto, apesar dos 12 cursos de medicina que possui, o Maranhão acompanhou esse crescimento.
"Mesmo com as necessidades existentes, ainda não é, não digo só a questão de atrativo, não oferece condições para que o médico exerça a profissão conforme o que é preconizado", enfatizaMaria do Carmo, médica e professora de medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Maranhenses sofrem sem atendimento
Enquanto isso, milhares de maranhenses sofrem, todos os dias, em hospitais espalhados pelo Estado e em busca de atendimento médico.
A autônoma Francielle Corrêa levou o filho ao Hospital da Criança, em São Luís, na manhã dessa terça-feira (2), com dores no estômago. Somente à noite, o menino foi internado e passou por exames 24 horas após ter dado entrada na unidade de saúde.
"Ele tomou o soro e ficou o tempo todo vomitando. Desde a madrugada todinha, aí foi a médica que 6h ela passou o exame e se a outra [médica] tivesse passado o exame, eu nem estaria mais aqui", disse.
A doméstica Maria da Conceição também passou pela mesma situação. A demora no atendimento fez aumentar o sofrimento e ela alega que, foi informada, que faltavam médicos suficientes.
"Uma enfermeira sabia que ela ia fazer a cirurgia e deu a alimentação para ela, sendo que tinha que ficar em jejum. Agora a situação está se agravando, agora vou ter que esperar, para ver se minha filha vai fazer a cirurgia, se não morrer no local onde ela está, entendeu? Porque a gente só tem resposta assim, dessa forma? Chamando a atenção da imprensa", afirmou a doméstica.
O Hospital da Criança atende, todos os dias, centenas de pacientes de São Luís e do interior do Maranhão. Letícia Railene veio de Itapecuru-Mirim, cidade a 108 km da capital maranhense, para acompanhar a tia com a prima de nove anos. Sem médico no interior, o jeito foi vir para São Luís.
"Chegamos umas 8h mais ou menos e agora que a menina foi atendida para passar pelo médico, para fazer os exames e ver o que vai dar. Se for a hérnia mesmo, é caso de cirurgia, e só Deus sabe quando vamos sair daqui", finalizou.
Procurado, o Governo do Estado não se manifestou sobre a falta de médicos no interior do Maranhão.
Por Olavo Sampaio, TV Mirante — São Luís
03/05/2023 19h16 Atualizado há 13 horas