Pouco mais de dois meses depois de admitirem a existência de um rombo bilionário em seus balanços, as Americanas apresentaram seu plano de recuperação judicial.
O que diz o plano?
Capitalização da empresa em R$ 10 bilhões, com suporte de seus acionistas de referência. Esses acionistas são os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, donos da gestora 3G Capital.
Conversão de R$ 10 bilhões de dívidas em ações da empresa.
Recompra de R$ 2,5 bilhões em dívidas, em leilão reverso com desconto inicial de 70%.
Conversão de R$ 5,8 bilhões da dívida em debêntures. As debêntures são títulos de dívida, com pagamento do montante principal previsto para daqui cinco anos. Nessa modalidade, o credor tem direito a receber juros nesse período, mas haveria um desconto de quase 60% do valor inicial da dívida.
Conversão das dívidas remanescentes. As dívidas que restarem serão convertidas em uma espécie de dívida de longo prazo e debêntures conversíveis, ou seja, que podem ser convertidas em ações da empresa no futuro.
Compromisso de não litigar. O plano prevê que, para aderir às principais modalidades de pagamento das suas dívidas, os credores se comprometem a não ser parte de nenhuma demanda contra a empresa na Justiça. Os credores que aceitarem terão desconto de 80% em seus débitos e vão receber somente em 2043.
Credores fornecedores. Os fornecedores com dívida de até R$ 12 mil receberão o valor integralmente em até 30 dias após a homologação do plano. Quem tiver dívida acima disso e não aceitar receber R$ 12 mil, terá desconto de 50% no valor da dívida.
Venda de ativos da empresa. Grupo Uni.Co (dona das redes Puket, Imaginarium e Love Brands), Hortifruti e Natural da Terra.
A companhia também vai vender uma aeronave. O modelo é um EMB-505, fabricada pela Embraer em 2014.
O que acontece agora?
O plano foi apresentado sem que a empresa conseguisse chegar a um acordo com os bancos. Instituições como Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Santander são os principais credores da varejista.
O plano de recuperação judicial pode ser alterado. As mudanças no texto vão refletir os avanços nas conversas entre a empresa e seus credores. As negociações continuam.
Após ser apresentado à Justiça, o plano precisa ser aprovado por uma assembleia de credores. Como são os donos das maiores dívidas, os bancos têm grande poder de voto na assembleia.
O plano precisará ser aprovado por 50% dos credores. Havendo a aprovação, o credor que não concordar com as condições terá que se submeter a elas mesmo assim. Se os credores não aprovarem o plano, a empresa pode ter sua falência decretada.
O que falta para haver um acordo?
Um ponto crucial do acordo com os credores é quanto dinheiro os acionistas de referência vão colocar na varejista.
No início de março, as Americanas apresentaram aos bancos a proposta de capitalização da empresa de R$ 10 bilhões. Foram R$ 3 bilhões a mais que a proposta anterior, que foi mal recebida pelos bancos.
O aporte ainda está longe de resolver os problemas da varejista, que tem uma dívida total de mais de R$ 40 bilhões.
Entenda a crise das Americanas
No dia 11 de janeiro, as Americanas revelaram um rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços. O CEO da empresa, Sergio Rial, que estava há menos de dez dias no cargo, pediu demissão.
Poucos dias depois, a empresa entrou em recuperação judicial. A dívida total chegava a R$ 47,9 bilhões. Até o terceiro trimestre de 2022 (dado do último balanço financeiro), antes da revelação do rombo, a empresa informava um endividamento bruto de R$ 19,3 bilhões.
Iniciou-se uma batalha judicial entre a varejista e os bancos, que classificam o caso como fraude.
Entenda as investigações
Os bancos buscam encontrar os responsáveis pelo rombo e têm recorrido a medidas judiciais que visam o patrimônio pessoal dos principais acionistas e executivos da empresa.