Um dos três nomes da cota do União Brasil no governo, Juscelino Filho enfrenta pressão por todos os lados.
Último ministro anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na formação do governo, Juscelino Filho (UB-MA), das Comunicações, se esforça agora para não ser o primeiro demitido da Esplanada dos Ministérios.
Atingido por uma série de denúncias, ele volta de Israel amanhã para organizar os argumentos que apresentará em sua defesa ao chefe do Executivo, na segunda-feira.
O Correio apurou que Juscelino Filho defenderá sua permanência no governo e promete esclarecer as suspeitas que pairam sobre sua conduta à frente da pasta e, também, como deputado federal na legislatura passada.
A possibilidade de pedir demissão — como sugeriu a presidente do PT, Gleisi Hoffmann — não está sendo cogitada por ele.
Um dos três nomes da cota do União Brasil no governo, Juscelino Filho enfrenta pressão por todos os lados.
Mesmo apostando que poderá esclarecer as denúncias, ele terá de enfrentar forte oposição política, não só dos "aliados" petistas, mas dentro de seu próprio partido, que ainda não entregou a Lula o apoio integral de sua bancada no Congresso.
Assim como o ministro das Comunicações, os dois outros nomes que o União Brasil emplacou — Daniela Carneiro (Turismo) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) — também enfrentam críticas e não contam com o apoio integral dos correligionários.
"Tudo começou com fogo amigo (dentro do União Brasil), e o PT surfou a onda", disse um interlocutor do ministro ouvido pela reportagem.
A crise que atingiu o ministro das Comunicações foi deflagrada após uma série de reportagens do jornal O Estado de S. Paulo revelar que, quando era deputado federal, fazendas ligadas à família dele foram beneficiadas com obras de asfaltamento bancadas por emendas do orçamento secreto da Câmara.
No fim de janeiro, nova reportagem apontou que o ministro viajou em avião da Força Aérea Brasileira (FAB) a São Paulo para cumprir agendas nos dias 26 e 27 e, no fim de semana subsequente, participou, em Boituva (SP), de um leilão de cavalos de raça, uma das áreas de negócios particulares que mantém no Maranhão.
Também há denúncias de que teria omitido do Tribunal Superior Eleitoral que os animais, da raça quarto de milha e avaliados em mais de R$ 2 milhões, são parte de seu patrimônio.
A correligionários e auxiliares próximos, o Juscelino Filho disse ser vítima de um "massacre" e que vai rebater todas as denúncias.
Sobre a viagem a São Paulo, reafirmará a Lula que teve compromissos da pasta com duas empresas privadas do setor de telecomunicações, além de reuniões técnicas com "a equipe do escritório regional da vinculada Telebrás" e com "o gerente regional da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações", segundo nota de esclarecimento emitida pelo ministério.
O encontro com criadores de cavalos se deu no fim de semana, em ambiente privado, na folga do ministro.
Mesmo assim, houve pagamento de diárias correspondentes à estadia de sábado até segunda-feira na capital paulista, valor que foi devolvido por ele após a divulgação do fato.
Juscelino Filho nega que tenha alegado "compromissos urgentes" para fazer jus às diárias, que somam mais de R$ 3 mil.
Sobre o suposto uso de emendas parlamentares para obras de pavimentação de estradas vicinais que teriam beneficiado fazendas de parentes em Vitorino Freire (MA), o ministro argumentará que a família dele é dona de terras no município desde a década de 1950.
E que a empresa, que, supostamente, seria a principal beneficiada com as obras de pavimentação — que receberam R$ 5 milhões em emendas do então deputado federal —, mantém contratos que somam R$ 800 milhões com o governo do Maranhão desde a primeira gestão de Flávio Dino (PSB-MA), iniciada oito anos atrás.
Por fim, o ministro afirma que sua criação de cavalos está devidamente declarada à Receita Federal. Ele pediu aos seus contadores que identifiquem se esse patrimônio foi declarado em nome da pessoa física (informação obrigatória à Justiça Eleitoral) ou vinculado ao CNPJ das fazendas (que não é declarado ao TSE).
Prova
Juscelino Filho é um dos poucos ministros que ainda não teve um encontro sequer com o presidente da República em audiência privativa no Palácio do Planalto desde 2 de janeiro. A primeira será na segunda-feira, justamente para defender seu cargo.
Em entrevista à Band News, Lula afirmou que Juscelino "tem direito de provar sua inocência, mas, se ele não conseguir provar, não pode ficar no governo".
Ao Correio, o presidente do União Brasil, deputado federal Luciano Bivar (PE), foi econômico nas palavras ao comentar o assunto. Disse apenas que Lula "tem que defender a ética do governo" e que aguarda a decisão sobre a saída ou não do ministro antes de iniciar uma nova rodada de negociações em torno do cargo. (Colaborou Raphael Felice)