"Pau no cu dos russos!", vocifera, indignado, o empresário paulistano Arício Filho, 41, em Lviv (oeste da Ucrânia). Na última quarta-feira (2), explicava que estava prestes a cumprir um serviço que se voluntariou: ir até Zamość, na Polônia, dirigindo uma van Volkswagen T3, em um comboio de três carros. A empreitada tinha como meta transportar as crianças ucranianas que acabavam de se despedir dos pais, que entrariam em combate.
Em Lviv, Arício também participou dos trabalhos de soldagem de barreiras metálicas para proteger os acessos à cidade. "Mas vou voltar para Kiev, com um misto de raiva e de cuidado com as minhas coisas, já que os apartamentos estão sendo saqueados", continua Arício, que mora na capital do país desde 2008.
O brasileiro é dono do hostel Kiev Central Station, situado na rua Hoholivska — o estabelecimento tem capacidade para 40 hóspedes, mas está em reforma para comportar até 60 clientes. Em novembro passado, Arício também abriu o bar São Miguel, ao lado do Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas.
"Não é uma questão de oportunidade de pegar em armas: é necessidade. Desde que saí do Brasil, construí tudo do zero, criei raízes aqui. Tenho um sentimento de perda da casa, dos negócios, dos amigos. Por que vou abrir mão de tudo? Os russos que venham me tirar daqui", explicou ao TAB.
O empresário contou ter doado cerca de 4 mil dólares em comida para abrigos e soldados. Enquanto isso, o bar está controlado pelos vizinhos, pois pode funcionar com um bunker.
Arício espera que os jogadores brasileiros de futebol que estavam na Ucrânia não esqueçam o país e se empenhem em campanhas de doação, além de doações próprias. "Eles podem ajudar muito", observa.
Décio Galina
Colaboração para o TAB, em São Paulo
05/03/2022 04h00