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POSSE DO NOVO PRESIDENTE DO TSE - Bolsonaro aplica uma tremenda fake news no TSE e vai para o "cercadinho" do Alvorada
23/02/2022 19:51 em NOTÍCIA

De nada adiantou a gentileza dos ministros Fachin e Moraes que, há 15 dias, levaram pessoalmente ao Palácio do Planalto o convite para Bolsonaro comparecer à posse deles no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Depois de alegar "compromissos preestabelecidos" de uma "extensa agenda", às 18h30 de terça-feira, Bolsonaro foi do Planalto direto para o Alvorada, como faz todos os dias, para atender aos devotos da seita no "cercadinho".

No mesmo horário em que o capitão conversava abobrinhas com apoiadores, começava a cerimônia no TSE para a posse na presidência e na vice dos dois ministros que irão comandar as eleições deste ano. Às 19h08, Bolsonaro se recolheu à residência oficial.

O último compromisso do presidente na agenda oficial tinha sido uma audiência com o advogado-geral da União, Bruno Bianco, que terminou às 16 horas.

Bolsonaro nem se deu ao trabalho de enviar pessoalmente uma justificativa para recusar o convite, ritual que foi cumprido na segunda-feira pela chefe do Gabinete Adjunto de Agenda do Gabinete Pessoal do presidente da República, Claudia Teixeira dos Santos Campos: 

"Considerando compromissos preestabelecidos em sua extensa agenda, o senhor presidente, Jair Bolsonaro não poderá participar do referido evento. 

Assim, agradece a gentileza e envia cumprimentos".

A tal "extensa agenda" era mais uma fake news, quer dizer, uma grossa mentira em bom português. Ou seja, o presidente deu uma solene banana para o TSE, como tem feito desde que tomou posse.

Mesmo ausente, Bolsonaro foi lembrado em todos os discursos, embora seu nome não tenha sido citado.

Nem precisava. A quem mais o ministro Edson Fachin poderia estar se dirigindo ao afirmar que "as investidas maliciosas contra as eleições constituem em si ataques indiretos à própria democracia, tendo em consideração que o circuito desinformativo impulsiona o extremismo. 

O Brasil merece mais, a Justiça Eleitoral brada por respeito e alerta: não se renderá"

Diante do reiterado ataque de Bolsonaro à segurança das urnas eletrônicas e da desconfiança generalizada de que poderá não respeitar o resultado, Fachin mandou diversos recados ao presidente:

"O respeito às urnas, mais do que reconhecer a dignidade do outro, é também proteger o avanço civilizatório. A democracia é, e sempre foi, inegociável.(...) Seremos implacáveis na defesa da história da Justiça eleitoral. Calar é consentir".

Esse embate promete fortes emoções. Também o corregedor-geral do TSE, ministro Mauro Campbell, manifestou-se na mesma linha: "As urnas eletrônicas são auditáveis, sim, e jamais adulteraram um único voto de qualquer eleitor brasileiro, e quem quiser provar o contrário será sempre bem-vindo".

Bolsonaro já tentou várias vezes "provar o contrário", sem conseguir, e por isso mesmo está sendo processado no Supremo Tribunal Federal.

No último 7 de setembro, o presidente já tentou até até tirar do tribunal o ministro Alexandre de Moraes, novo vice-presidente do TSE, ao lançar o desafio:

"Dizer a vocês que, qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais. Ou o chefe desse poder o enquadra ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos".

O que seria ele não disse. No dia seguinte, fez uma retratação lavrada pelo ex-presidente Michel Temer, chamado às pressas a Brasília.

Mas, outro dia mesmo, Bolsonaro simplesmente ignorou uma ordem do ministro Moraes para prestar depoimento na Polícia Federal no inquérito das fake news.

Os constantes ataques aos tribunais superiores não são gratuitos. Procuram atender a uma demanda do eleitorado mais fiel e radical do presidente que costuma se postar no "cercadinho" do Alvorada para ouvir as suas palavras de ordem _ o mesmo que ele foi atender na terça-feira, para não ir à posse no TSE.

Este é o clima no início do ano eleitoral, que só deve piorar. Nota publicada hoje na coluna Radar da Veja, por Robson Bonin, dá conta que "Falas de Fachin e Barroso incendeiam a ala militar do governo".

No texto, como de costume, não aparece o nome de nenhuma fonte militar. eles só falam em "off". Por que será?

"A verdade é que os ministros Barroso, Fachin e Moraes se uniram, com apoio de políticos de esquerda e da maioria da imprensa, para atacar o presidente e inviabilizar a reeleição", disse ao colunista o valente militar anônimo.

Qual "ala militar" do governo estará pegando fogo? Ainda que mal me pergunte: o que a "ala militar" tem a ver com eleições? Quem tem alas é escola de samba, mas este ano não vai ter carnaval.

Vida que segue.

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