Vítor Amorim, de 19 anos, foi assassinado em um bar, em São Gonçalo. Familiares dizem que ele foi morto pela PM. Corporação nega e diz que jovem ficou no meio de um fogo cruzado com bandidos.
O boletim médico do lutador Vítor Reis de Amorim informa que o jovem já chegou morto ao pronto socorro de São Gonçalo com um tiro no lado esquerdo do peito, sem nenhuma marca de saída. Escoriações no calcanhar esquerdo do lutador também foram encontradas.
A certidão da óbito do jovem diz que a causa da morte foi "ferida transfixante do tórax com lesão polivisceral e hemorragia interna, ação perfuro-contundente", ou seja, causada por arma de fogo.
Vítor, de 19 anos, foi assassinado com um tiro em um bar em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, na terça-feira (28). Ele estava com amigos, no Morro da Jaqueira.
A família conta que policiais chegaram atirando, e que Vítor correu pra tentar se abrigar, quando foi atingido. Segundo o pai do jovem, ele foi baleado nas costas.
Mas a Polícia Militar nega essa versão e diz que Vítor foi atingido no peito, de frente, durante um fogo cruzado com bandidos.
A Polícia Civil recolheu as armas dos policiais militares envolvidos na morte do lutador de Muay Thay. Disse ainda que vai pedir o GPS da viatura usada pelos policiais no momento da ação para saber qual foi a rota utilizada por eles e o local exato onde Vítor foi morto.
Apesar do boletim médico, os agentes também aguardam o laudo de necropsia de Vítor para saber exatamente em qual área do corpo ele foi atingido.
Já a Polícia Militar disse que a Corregedoria da corporação vai investigar o caso.
O corpo do jovem foi enterrado na quarta-feira (29) no Cemitério São Miguel, também em São Gonçalo, sob forte comoção de amigos e familiares.
Pai diz que vai lutar por justiça
O pai relembrou as conquistas do filho e chegou a levar as medalhas e o último troféu de campeão de Vítor. Disse que vai lutar por justiça até conseguir entender o que aconteceu.
“Olha o que meu filho era, gente, isso aqui tudo que ele ganhou, lutador, meu filho, essas medalhas aqui ele ganhou lutando. O tráfico ia dar isso pra ele? Ele conseguiu isso aí lutando. Lutando. Ele não é lutador de fundo de quintal, não. Ele é federado", disse o pai do jovem, Vanelci Ferreira.
"Nunca eu estaria aqui se meu filho fosse bandido. Eu nunca iria compartilhar um erro do meu filho, que se errar ele vai pagar pelo erro. Certo? Então, se eu tô aqui é porque eu vou botar a minha mão no fogo e vou provar pra todo mundo que o meu filho não é bandido e nunca foi”.
A Polícia Militar disse que agentes do 7º BPM (São Gonçalo) faziam um patrulhamento no bairro Patronato quando foram foram surpreendidos por criminosos. Afirma ainda que houve troca de tiros.
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse em entrevista ao Bom Dia Rio que os agentes envolvidos na ocorrência confirmaram o ataque.
“Os policiais informaram que de fato foram atacados. A gente teve ali um confronto segundo relato dessa ocorrência. Houve uma fuga dos marginais que atacaram os policiais. Logo após foram encontrados ali ao solo a pistola e também o jovem morto”, disse o major Ivan Blaz.
Segundo ele, os policiais não souberam dizer se atiraram contra o jovem.
“Os policiais de fato confirmaram que efetuaram disparos. Logicamente, eles não conseguem precisar se o Vítor foi atingido por um disparo deles. Muito provavelmente possa vir a ter sido, sim”.
Família nega troca de tiros
O pai de Vítor voltou a afirmar que não houve troca de tiros.
“Agora ele vem dizer que ele tinha um irmão. O irmão dele pode ser até meio virado, mas na minha casa não mora, porque eu não deixo, não quero. O irmão dele é casado, tem a mulher dele pra lá, certo? O Víto não, Vítor era meu companheiro”.
"Chegou atirando, rapaz, e vieram dizendo que trocaram tiros. É mentira. Mas vocês sabem que a versão deles é sempre essa. É mentira. Chegou, deu um tiro, acertou o garoto e matou e acabou. Um tiro só. Não teve troca de tiros, não teve nada".
Uma especialista em segurança pública criticou a ação da Polícia Militar.
"Nenhuma polícia tem licença pra matar. Todo tiro de polícia deve produzir mobilização defensiva somente do oponente armado que atira, ou ameaça atirar no policial. Tiro de polícia tem que ter alvo definido, situação definida e controle de local onde se atira, para não atingir pessoas que estão ali e destruir seus bens. É isso que separa o dedo profissional no uso repressivo da força, do dedo nervoso, amador, violento ou mal intencionado", disse Jacqueline Muniz.
Castro: 'Se errou, será punido'
Diante da repercussão do caso, o governador do Rio disse na quarta-feira (29) que somente a investigação poderá dizer se os policiais erraram ou não.
“Eu não comento investigação. Já tá na Polícia Civil. Nossa polícia é a polícia que mais pune aqueles que não fazem bem-feito, que erram. Se errou, será punido. Mas eu nunca condeno antes do devido processo, minha postura continua essa. Eu sou favorável à polícia, sempre, respeitando que a pessoa não pode cometer um excesso. Se errou, será exemplarmente punido. Se não errou, não vai ter condenação antecipada do policial”, disse Cláudio Castro.