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CPI da Covid: saí do governo porque Bolsonaro insistia na cloroquina, diz Teich
Publicado em 06/05/2021 07:46
NOTÍCIA

 

À CPI, Teich enfatizou que não há comprovação científica para uso da cloroquina no tratamento de covid-19

Em depoimento da CPI da Covid nesta quarta (05/05), o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, afirmou que deixou o cargo depois de apenas 29 dias em 2020 porque não tinha autonomia suficiente para exercer sua função e pela insistência do presidente Jair Bolsonaro na implementação do uso da cloroquina no combate ao coronavírus.

Teich disse que o presidente não tentava interferir no seu trabalho e que a única orientação de Bolsonaro contrária à orientação técnica foi sobre o uso da cloroquina — que não tem comprovação científica no combate ao coronavírus.

"Percebi que não teria autonomia. Isso refletia uma falta de autonomia e uma falta de liderança", disse Teich. "Se existiu alguma tentativa de interferência, pode ser sido essa."

Teich no entanto afirmou que não recebeu nenhuma ordem direta para implementar o uso do remédio. Segundo ele, a postura do presidente ficou clara em uma reunião do presidente com empresários, na qual Bolsonaro afirmou que o remédio seria implementado, em uma live nas redes sociais e em um pronunciamento em que o presidente disse que o ministro da Saúde teria que estar alinhado.

Teich prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito um dia depois do também ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que afirmou que Bolsonaro foi alertado das consequências de não ouvir    ciência.O objetivo da CPI é investigar ações de omissões do governo federal na pandemia e também o uso de recursos para combater a pandemia nos Estados.

Teich evitou críticas mais diretas ao presidente e disse que não é capaz de mensurar o quanto posturas e falas do presidente impactaram no avanço da pandemia e no número de mortes.

"Honestamente não sou capaz de fazer, acredito que isso é papel da CPI", disse.

Nesta quarta-feira, a CPI aprovou os depoimentos da próxima semana. Na terça-feira, serão ouvidos o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten (que recentemente atacou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello) e executivos da Pfizer (para falar sobre a recusa do governo Bolsonaro em comprar vacinas da empresa no ano passado).

O tema vacinas será abordado também nos dois dias seguintes. Na quarta, falarão os executivos do Instituto Butantan e da Fiocruz. Já na quinta, a CPI recebe o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e um representante do laboratório russo que produz a vacina Sputnik V.

Confira os principais trechos do depoimento de Teich.

Transparências e entrevistas

Teich afirmou que a diminuição de entrevistas coletivas após sua posse foi uma decisão sua.

"Quando eu entrei, existia um clima de politização muito intenso, as coisas que eu falava eram mais usadas do que ouvidas", afirmou.

"Eu estava estudando a melhor forma daquelas coletivas acontecerem."

Teich comentou sobre o dia em que estava dando uma entrevista e ficou sabendo com a pergunta de um dos jornalista sobre as decisões do planalto em relação à liberação de funcionamento de certos tipos de estabelecimento

"Aquilo foi muito ruim, porque deu uma impressão negativa."

Médicos e a Cloroquina

Teich criticou a postura do CFM (Conselho Federal de Medicina), que não se posicionou de forma contrária ao uso da cloroquina e da ivermectina no combate à covid. A posição do CFM é que a decisão para uso do medicamento é de discricionariedade dos médicos.

"É uma postura inadequada, porque pode estimular o uso de um remédio que a gente não tem comprovação, em condições em que o paciente pode estar mais exposto a não ter os cuidados necessários para o uso do medicamento. Minha posição é contrária", afirma Teich.

Um dos senadores governistas, Eduardo Girão (Podemos-CE), disse que remédios como cloroquina e ivermectina "viraram palavrão" e perguntou se a contra indicação não "poderia ferir a autonomia médica", já que os remédios são utilizados há anos.

A cloroquina é utilizada no tratamento de malária e lupus, para os quais há comprovação de seu funcionamento. A ivermectina é um vermífugo, para o que também é comprovada. Não há evidências de que algum desses medicamentos funcione contra o coronavírus.

 

 

 

 

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