O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou hoje o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmando que ele "está em casa sem trabalhar" e sugerindo que falta "transparência" na companhia.
Ele disse que a atual política da empresa deixa o mercado financeiro feliz e atende o interesse de apenas "alguns grupos" no Brasil.
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A crise entre Bolsonaro e a Petrobras se intensificou na última semana, depois do anúncio de reajustes nos preços do diesel e da gasolina.
Depois de avisar que faria mudanças, o presidente da República anunciou na noite da última sexta-feira a indicação de Joaquim Silva e Luna para a presidência da empresa.
A escolha do governo, porém, precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras.
O mandato de Castello Branco se encerra em 20 de março.egundo Bolsonaro, a Petrobras só vê "os interesses próprios de alguns grupos", e por isso alguns setores do mercado estariam incomodados com a mudança na presidência da empresa.
A queda nas ações da companhia já bateu 18%.
"[Resposta negativa do mercado] é sinal que uns do mercado financeiro estão muito felizes com a politica que só tem um viés na Petrobras, atender os interesses próprios de alguns grupos no Brasil, nada além disso", disse Bolsonaro nesta manhã a apoiadores no Palácio da Alvorada.
O presidente afirmou que não interfere na Petrobras, apesar de reclamar publicamente dos preços dos combustíveis. Disse ainda que trocar o comandante da empresa é um direito seu, embora quem decida sobre a permanência do presidente seja o conselho da companhia.
Você vê como se comporta a imprensa no Brasil, falam em interferência minha?
Baixou o preço do combustível? [Não], foi anunciado [aumento de] 15% no diesel, 10% na gasolina.
Está valendo o mesmo percentual. Como teve interferência?
O que eu quero e exijo da Petrobras é transparência e previsibilidade, nada mais além disso.
E outra coisa, dia 20 de março encerra o prazo da vigência do atual presidente.
É direito meu reconduzir ou não. Não será reconduzido, qual o problema?
presidente Jair Bolsonaro
Home-office de Castello Branco é "inadmissível", diz Bolsonaro
Na conversa com apoiadores, Bolsonaro afirmou que Castello Branco tem feito home-office durante a pandemia, o que, para ele, é inadmissível.
"O atual presidente da Petrobras está há 11 meses em casa, sem trabalhar, né?", disse Bolsonaro, mencionando medida para evitar o contágio por coronavírus. A pandemia de coronavírus fez vários servidores públicos e funcionários privados atuarem de maneira remota.
O chefe tem que estar na frente, bem como seus diretores. Isso [home-office] para mim é inadmissível. Descobri isso há poucas semanas. Imagina eu, presidente, em casa com medo do covid, ficando aqui o tempo todo aqui no Alvorada. Não justifica isso.
presidente Jair Bolsonaro, sobre Roberto Castello Branco
O presidente disse ainda que a produtividade da estatal não o agradou. "Inclusive o ritmo de trabalho de muitos servidores lá está diferenciado. Ninguém quer perseguir servidor, muito ao contrário, temos que valorizar?Agora, o petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo do Brasil?", questionou.
Mais de R$ 50 mil por mês para presidente da Petrobras
Ele ainda reclamou dos salários dos diretores da estatal. "Sabe quanto ganha um presidente da Petrobras? R$ 50 mil por semana? É mais do que isso por semana. Tem coisa que não está certa. E para ficar em casa. Pode estar fazendo um bom trabalho em casa, mas, no meu entender, não justifica."
Em relatório anual à CVM, a Petrobras informou que a maior remuneração individual em 2019 na Diretoria Executiva (órgão do qual o Castello Branco já fazia parte, como presidente da empresa) foi de R$ 2.711.572,79 —o equivalente a R$ 225.964,40 por mês.
Já um relatório do Ministério da Economia divulgado este ano aponta que a Petrobras tem o salário mais alto entre todas as estatais comandadas pela União: R$ 106 mil. O documento não deixa claro se este é o salário do presidente da empresa, nem quais remunerações estão incluídas no cálculo.
Aumento foi incompatível, diz Bolsonaro
Ao reclamar novamente sobre o preço dos combustíveis, Bolsonaro afirmou que o aumento anunciado na semana passada não seria compatível com os reajustes no câmbio e no barril do petróleo.
Ninguém vai interferir na política de preços da Petrobras e eu não consigo entender num prazo de duas semanas ter reajuste de 15% no diesel. Não foi essa a variação do dólar lá fora aqui dentro nem do preço do barril lá fora. Tem coisa que tem que ser explicada.
presidente Jair Bolsonaro
Ele afirmou que seria possível diminuir o preço dos combustíveis em "mais de 10%", mas não "na canetada". Bolsonaro, então, citou fraude e adulteração de combustíveis, a margem de lucro das distribuidoras, os ganhos dos donos de postos de combustíveis e o valor do impostos.
"Querem me culpar pela inflação dos alimentos", diz Bolsonaro
O presidente disse que sua preocupação é atender "o interesse público". Mas afirmou também que está preocupado em ser responsabilizado por problemas econômicos.
Querem culpar a mim pela inflação, a questão o preço de muita coisa, em especial a alimentação; o desemprego também querem culpar a mim.
Jair Bolsonaro
Na sequência, ele culpou o isolamento físico ordenado para prevenir a contaminação em massa pelo coronavírus. "Quem fechou o comércio não fui eu", disse Bolsonaro. "O efeito colateral do combate ao vírus causa mais mortes." Bolsonaro não usava máscara na conversa com os apoiadores, equipamento para evitar a disseminação da doença