Os Estados Unidos vivem uma transição presidencial marcada por grande tensão. Donald Trump perdeu a reeleição na votação de novembro, mas segue dizendo que Joe Biden só venceu por conta de fraudes. No entanto, o republicano não apresenta provas do que diz.
No dia 6 de janeiro, uma multidão de apoiadores de Trump invadiu o Congresso dos EUA para tentar parar a votação que certificaria a vitória de Biden. A confirmação ocorreu mesmo assim. Em seguida, parlamentares passaram a pedir abertamente a saída do presidente, a poucos dias do fim de seu mandato.
Nesta quarta (20), Biden e a vice-presidente eleita, Kamala Harris, assumem oficialmente seus cargos na Casa Branca. A transmissão da cerimônia começou às 12h (horário de Brasília).
Os juramentos de Biden e Kamala ocorreram por volta das 14h. Durante a tarde e a noite desta quarta, está programada uma sequência de formalidades, apresentações e desfiles —virtuais, devido à pandemia de coronavírus.
Obama, Clinton e Bush aparecem juntos em festa virtual da posse de Biden
Os ex-presidentes democratas Barack Obama e Bill Clinton e o republicano George W. Bush gravaram uma mensagem para o 46º ocupante da Casa Branca —Joe Biden, que assumiu nesta quarta (20).
"Como americanos, temos mais em comum do que aquilo que nos separa", disse Obama, que afirmou ter orgulho de Biden, que foi vice-presidente durante seu governo.
As falas foram exibidas durante o último bloco do evento virtual "Celebrando a América", que substituiu a tradicional festa da posse por conta da pandemia.
Obama disse ainda que os três ex-presidentes estarão disponíveis "como cidadãos" para ajudar o novo governo como puderem.
Kamala Harris fala em determinação do povo americano e pede união em evento virtual de inauguração
Em seu discurso no especial de inauguração "Celebrando a América" na noite desta quarta-feira (20), a vice-presidente Kamala Harris disse que seu governo com Joe Biden convida o povo americano a acreditar no país e no que eles podem construir juntos.
"Este momento incorporou nosso caráter como uma nação, nós não apenas vemos o que já aconteceu, nós vemos o que pode ser", disse Kamala na frente do espelho d'água do Obelisco, em Washington, citando líderes americanos anteriores.
"No meio da Guerra Civil, [o ex-presidente] Abraham Lincoln viu um futuro melhor [...], no meio do movimento pelos direitos civis Martin Luther King King lutou por justiça racial e econômica."
Um grande feito, ela disse, requer vontade e sabedoria. "Essa mesma determinação está sendo realizada na América hoje."
Seu discurso reiterou o tom de união presente em toda a cerimônia. Apresentado por Tom Hanks, o programa teve performances de artistas como John Legend, Jon Bon Jovi e Bruce Springsteen.
Bruce Springsteen abre evento virtual da inauguração cantando no Lincoln Memorial
Para abrir o programa "Celebrando América", que na noite desta quarta-feira (20) substitui a tradicional festa de inauguração de novo governo devido à pandemia, Bruce Springsteen cantou "Land of Hope and Dreams" (terra de esperança e sonhos) nas escadarias do Lincoln Memorial, em Washington.
A música reflete o tom que marcou a posse de Joe Biden, com falas e pedidos de união de um país dividido e polarizado —fratura exposta pela invasão do Congresso em 6 de janeiro, durante a certificação dos votos do Colégio Eleitoral que deram a vitória a Biden.
"Nas últimas semanas, nos últimos anos, nós testemunhamos divisões profundas, mas nesta noite nós pensamos nos Estados Unidos", disse o ator Tom Hanks, o apresentador do evento virtual, em sua fala de abertura. "A prática de nossa democracia, os fundamentos de nossa república, a integridade de nossa Constituição, a esperança e os sonhos que todos compartilhamos por uma união mais perfeita."
Em seguida, Jon Bon Jovi, que fez campanha com Biden na Pensilvânia, cantou "Here Comes the Sun" (lá vem o sol), dos Beatles, em uma gravação feita em Miami.
O programa de 90 minutos contará com comentários de Biden e da vice-presidente Kamala Harris, e terá performances de Foo Fighters, Demi Lovato, Justin Timberlake e outros artistas.
Biden vai retomar entrevistas coletivas sobre pandemia, diz secretária de imprensa
Reconstruir a confiança dos americanos dia após dia será fundamental para o governo de Joe Biden, afirmou nesta quarta (20) a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, na primeira entrevista coletiva da nova administração.
Uma das primeiras ações do governo democrata neste sentido será restabelecer os "briefings" sobre a situação do coronavírus no país com especialistas em saúde, além das coletivas diárias com a imprensa na Casa Branca, afirmou ela. O presidente deve se envolver na negociação de um pacote de estímulos com o Congresso, procurando selar um acordo de 1,9 trilhão de dólares.
Psaki —que trabalhou como porta-voz do Departamento de Estado durante o governo de Barack Obama e como secretária de imprensa adjunta da Casa Branca— afirmou que o governo vai combater a desinformação com "informação precisa e verdade e dados e o compartilhamento de informações com o público mesmo quando estas forem difíceis de ouvir", sobretudo em relação à pandemia.
As coletivas sobre a pandemia haviam sido suspensas em abril pela administração de Donald Trump, após ele sugerir que ingerir desinfetante poderia matar o vírus.
Respondendo a uma pergunta da correspondente da Globonews, Raquel Krähenbuhl, a secretária informou que não há previsão de um contato telefônico ou conversa de Biden com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. O primeiro líder estrangeiro com quem Biden vai falar será o premiê canadense, Justin Trudeau, na sexta (22), seguido por uma série de aliados.
Também não há planos de que Biden ligue para Trump ou para o presidente russo, Vladimir Putin, ou de que divulgue o conteúdo da carta que recebeu de Trump nesta quarta.
Psaki detalhou ainda as ordens executivas que Biden assinou em seu primeiro dia no cargo, dentre as quais uma que marca o retorno dos EUA ao Acordo de Paris.
Biden torna obrigatório uso de máscara em prédios federais e devolve os EUA ao Acordo de Paris
Em seus primeiros momentos no Salão Oval da Casa Branca como presidente empossado, Biden assinou 17 ordens executivas e declarou o dia 20 de janeiro como "Dia Nacional da União" nos EUA.
Entre as medidas assinadas, estão a ordem para uso de máscara em prédios federais, como forma de proteção ao coronavírus, e o retorno dos EUA para o Acordo Climático de Paris.
As ordens executivas não precisam de aprovação do Congresso, mas podem sofrer questionamentos na Justiça. Além dessas medidas, o democrata vai colocar os EUA de volta à OMS (Organização Mundial da Saúde) e banir o veto de entrada em território americano a cidadão de alguns países de maioria muçulmana. (Marina Dias)
Biden diz que Trump lhe deixou uma carta 'muito generosa'
O presidente Joe Biden disse que Donald Trump lhe deixou na Casa Branca uma carta "muito generosa". No entanto, afirmou que não revelará seu conteúdo até conversar com o ex-presidente, por se tratar de uma mensagem privada. Biden fez o comentário enquanto assinava ordens executivas.
É uma tradição americana que presidentes deixem uma carta aos seus sucessores. Trump, porém, não cumprimentou Biden pela vitória e se recusou a ir à posse, nesta quarta-feira (20). Ele deixou Washington três horas antes do fim de seu mandato.
Recebida com aplausos, Kamala assume presidência do Senado pela 1ª vez
Horas após sua posse como vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris assumiu pela primeira vez o comando do Senado sob aplausos de seus colegas da Casa.
Pela lei americana, o vice acumula também o cargo de presidente do Senado.
Como é a primeira mulher e a primeira pessoa negra a assumir o cargo de vice-presidente, ela consequentemente é a primeira mulher e a primeira negra a comandar o Senado. Como a Câmara também é comandada por uma mulher —a democrata Nancy Pelosi—, agora todo o Legislativo americano é chefiado por mulheres.
Em seu primeiro ato como presidente da Casa, Kamala empossou três novos senadores: Jon Ossoff, Rapahel Warnock (ambos da Geórgia) e Alex Padilla (Califórnia).
Este último é o substituto da própria Kamala, que renunciou a seu mandato como senadora na segunda (18) para poder assumir a Vice-Presidência. Ela não segurou o riso ao anunciar a coincidência.
Com a posse dos três novos senadores, os democratas retomam o controle da Casa depois de seis anos como minoria.
O partido agora tem 50 cadeiras na Casa (incluindo dois independentes que votam com a sigla), contra 50 votos dos republicanos. Em caso de empate, cabe a própria Kamala —que é democrata— o voto de minerva.
Premiê de Israel e presidente palestino cumprimentam Biden
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, pediu nesta quarta-feira (20) ao novo presidente americano, Joe Biden, que fortaleça a aliança entre os países para enfrentar desafios comuns.
"Estou ansioso para trabalhar com você para fortalecer a aliança Estados Unidos-Israel, para continuar a estender a paz entre Israel e o mundo árabe e para enfrentar desafios comuns, começando com a ameaça representada pelo Irã", disse Netanyahu em um vídeo de felicitações.
Netanyahu costumava repetir que Donald Trump era o "melhor amigo" que Israel já teve na Casa Branca, mas nesta quarta também recordou "uma estreita amizade de várias décadas" com o democrata Joe Biden.
Sob a liderança de Trump, os Estados Unidos reconheceram Jerusalém como a capital de Israel, uma decisão que os líderes anteriores haviam congelado por décadas. Washington também se retirou unilateralmente do acordo internacional em torno do programa nuclear iraniano, um gesto aplaudido pelo governo israelense.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, também parabenizou o novo presidente e a vice, Kamala Harris, segundo a agência de notícias palestina WAFA, desejando a ambos sucesso ao enfrentar os desafios que virão. "Esperamos trabalhar juntos pela paz e estabilidade na região e no mundo", afirmou ele em uma carta a Biden.
18h22 20.jan
'Continuem fazendo o que estão fazendo', diz Biden em primeira manifestação à imprensa
Enquanto caminhava ao lado da mulher e de seus familiares em direção à Casa Branca nesta quarta (20), o presidente Joe Biden quebrou o protocolo e se aproximou de um grupo de jornalistas que estava do outro lado da grade de proteção.
De acordo com a rede de TV CNN, ele cumprimentou rapidamente um repórter e disse apenas uma frase: "Continuem fazendo o que estão fazendo". Essa é a primeira declaração do democrata à imprensa desde que ele assumiu oficialmente o comando do país, há pouco mais de quatro horas.
Biden, porém, não respondeu a perguntas dos jornalistas que estavam no local, fazendo apenas um sinal de positivo enquanto voltava a se aproximar de seus familiares.
Andrew Kelly/Reuters
