Nunca antes na história do Brasil, o país esteve tão isolado no cenário internacional e precisando justamente daqueles que tanto atacou nos últimos tempos.
E, do Itamaraty, vêm informações de que ou o Brasil muda sua forma de atuação ou terá problemas. Jair Bolsonaro jogou todas as fichas em Donald Trump e colocou um pé no palanque do ex-presidente dos Estados Unidos a receber, em setembro do ano passado, em plena campanha para a Presidência dos Estados Unidos, o secretário de Estado, Mike Pompeo na fronteira com a Venezuela.
O encontro foi tido à época como uma forma de Bolsonaro dar uma forcinha a Trump junto ao eleitorado latino. Agora, com Trump descansando na Flórida, Bolsonaro terá que trabalhar muito a fim de tentar conquistar o respeito do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Daí, o envio de uma carta e os parabéns a Biden pelas redes sociais.
"É minha convicção que, juntos, temos todas as condições para seguir aprofundando nossos vínculos e agenda de trabalho, em favor da prosperidade e do bem-estar de nossas nações", diz Bolsonaro em um trecho da carta. "Ao desejar a vossa excelência pleno êxito no exercício de seu mandato, pelo que aceite, senhor presidente, os votos de minha mais alta estima e admiração", acrescentou.
Comércio, meio ambiente e segurança
Na carta a Biden, Bolsonaro cita sua admiração pelos Estados Unidos e enumera temas que ele considera prioritários na atual agenda bilateral.
"No campo econômico, o Brasil, assim como empresários de nossos países, tem interesse em um abrangente acordo de livre comércio, que gere mais empregos e investimentos e aumente a competitividade global de nossas empresas. Já temos como base os recentes protocolos de facilitação de comércio, boas práticas regulatórias e combate à corrupção, que certamente contribuirão para a recuperação de nossas economias no contexto pós-pandemia".
Sobre a questão ambiental, Bolsonaro mencionou, na carta, a renovação das metas do país no Acordo de Paris e pediu diálogo, especialmente na questão energética.
"Estamos prontos, ademais, a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso Diálogo Ambiental, recém-inaugurado. Noto, a propósito, que o Brasil demonstrou seu compromisso com o Acordo de Paris com a apresentação de suas novas metas nacionais. Para o êxito do combate à mudança do clima, será fundamental aprofundar o diálogo na área energética".
Outro ponto tratado por Bolsonaro no documento enviado a Biden foi sobre segurança e combate ao crime organizado.
"Brasil e Estados Unidos coincidem na defesa da democracia e da segurança em nosso hemisfério, atuando juntos contra ameaças que ponham em risco conquistas democráticas em nossa região. Adicionalmente, temos cooperado para impedir a expansão das redes criminosas e do terrorismo, que tantos males causam a nossos países e aos demais países da América Latina e do Caribe".
Chanceler
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também postou nas redes sociais sobre a posse de Joe Biden. Araújo escreveu que, com Bolsonaro, o Brasil retomou a vocação de uma parceria profunda com os EUA.
"Esperamos, agora com o Presidente Biden, aprofundar essa parceria, diante dos novos desafios que se deparam aos nossos ideais comuns", escreveu.
A carta enviada por Bolsonaro ao novo presidente é uma espécie de bandeira branca.
O presidente brasileiro não consegue sequer acertar com a Índia o envio imediato das vacinas, e ainda verá o novo presidente dos Estados Unidos se juntar aos países europeus que há tempos cobram um cuidado maior do governo brasileiro em relação à Amazônia.
Para quem disse que, quando acabasse a “saliva” teria que ter “pólvora”, o presidente brasileiro dá sinais de que deixou de lado essas bravatas e está disposto a manter uma relação cordial e respeitosa com os Estados Unidos.
Melhor assim.
Por Denise Rothenburg