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Botafogo joga com um a menos, bate Atlético-MG e conquista a Libertadores
NOTÍCIA
Publicado em 30/11/2024

Alvinegro carioca irrompe da depressão e curte 'euforia de uma tarde luminosa' em Buenos Aires.

 
São Paul
 
 

 

A final da Copa Libe tadores da América de 2024 começou com um jogador do Botafogo expulso por um chute na cabeça do adversário aos 30 segundos de partida. De algum jeito, o olhar soturno de cada alvinegro carioca se converteu na "euforia de uma tarde luminosa", no sábado (30), em Buenos Aires.

A equipe de General Severiano derrotou o Atlético Mineiro por 3 a 1, no estádio Monumental de Núñez, e se tornou campeã da Copa Libertadores. Luiz Henrique, Alex Telles e Júnior Santos fizeram os gols que deram a ela um de seus maiores títulos, obtidos em uma convivência com o pessimismo que apenas o botafoguense parece capaz de estabelecer.

A própria frase "há coisas que só acontecem ao Botafogo", repetida com frequência quando o time se vê como "um menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol", é quase sempre evocada em momentos de dificuldade. Mas sua aparição mais célebre é em texto de Paulo Mendes Campos, de 1962, ano em que o time conquistou o Torneio Rio-São Paulo e o Campeonato Carioca.

 

"A mim e a êle soem acontecer sumidouros de depressão, dos quais irrompemos eventualmente para a euforia de uma tarde luminosa", escreveu o cronista, na revista Manchete, sob o título "O Botafogo e Eu". Ele se comparava à equipe na angústia –"faço gol contra, comprometo", como Gregore– antes do júbilo pós-depressivo.

Assim foi em 2024, o desgosto quase resignado convertido em êxtase. Na final continental em jogo único, na Argentina, a formação carioca sobrepujou a mineira apesar do cartão vermelho mostrado ao volante Gregore no primeiro minuto. Com um a menos, a formação do Rio marcou duas vezes no primeiro tempo. Sofreu no segundo, porém resistiu.

Para que o troféu fosse erguido pelo capitão Marlon Freitas, foi necessário ao Botafogo lidar, à sua maneira, com frustrações. O pessimismo alvinegro veio à tona na derrocada que custou o título do Campeonato Brasileiro de 2023 –com o desperdício de uma vantagem de 13 pontos sobre o Palmeiras, que acabou levantando a taça– e se manteve firme neste ano.

 

Houve ao menos duas ocasiões em que a repetição do roteiro se insinuou.

A primeira foi na agora conquistada Libertadores. Nas oitavas de final, no fim do jogo de volta, em vantagem aparentemente confortável de três gols sobre, de novo, o Palmeiras, o Botafogo levou um tento aos 41 minutos do segundo tempo, tomou outro aos 44 e viu uma cobrança de falta do rival explodir na trave, aos 55.

Já no Brasileiro, com vantagem de seis pontos –sobre, claro, o Palmeiras–, o time teve três tropeços em sequência e perdeu a primeira colocação na 35ª rodada. Então, em seguida, na casa do rival, fez 3 a 1 no breve líder e foi a Buenos Aires com o moral renovado para a decisão da Libertadores, contra o Atlético.

Aí, a dramaticidade atingiu níveis elevadíssimos. Gregore levantou o pé em disputa com Fausto Vera nos instantes iniciais, acertou sua cabeça e tornou a final um embate de 10 contra 11. O Atlético, tímido, não soube aproveitar a vantagem. E cometeu erros que permitiram ao adversário abrir boa frente no primeiro tempo.

Aos 35 minutos, Luiz Henrique tramou jogada com Almada e rolou para Marlon Freitas finalizar. Após dois desvios no caminho, a bola se ofereceu ao próprio Luiz Henrique, que abriu o placar. Também foi Luiz Henrique quem sofreu pênalti de Everson, após vacilo de Arana, assinalado com o auxílio do árbitro de vídeo. Alex Telles, aos 44, converteu.

Alex Telles celebra o segundo gol do Botafogo no Monumental - Agustin Marcarian/Reuters

Em desvantagem de dois gols, o Atlético partiu ao ataque após o intervalo, com as entradas dos atacantes Vargas e Bernard e do lateral ofensivo Mariano. Logo aos dois minutos, Vargas cabeceou livre, em escanteio, e deu vida à final. O próprio Vargas, porém, teve duas chances claras no finalzinho e finalizou mal. Era dia de outro time alvinegro, que ainda fechou o placar nos acréscimos, com Júnior Santos.

 

Pessimismos, poesias e crônicas alvinegras à parte, o triunfo do Botafogo tem obviamente muito a ver com o investimento feito no clube, cujo futebol foi comprado por um grupo de empresários em 2022. A caminhada da segunda divisão do Brasileiro, em 2021, ao topo do continente, em 2024, tem muito a ver com John Textor.

O milionário norte-americano se tornou o principal dirigente da agremiação no modelo SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a sigla usada na legislação brasileira para a instituição dos clubes-empresas. A equipe carioca passou a fazer a parte da Eagle Football Holdings, uma rede de times com orçamento basicamente compartilhado que inclui o Lyon, da França.

Textor se apaixonou pelo Rio de Janeiro. E deu de ombros no Brasil para os questionamentos em torno do chamado "fair play financeiro", que tem lhe dado enorme dor de cabeça no Lyon. O futebol do Botafogo arrecadou em 2023 R$ 322 milhões, com uma operação que custou R$ 444 milhões. Em 2024, a Eagle prevê R$ 540 milhões em receitas com o clube carioca.

As linhas são turvas em uma "holding". Tão turvas que Luiz Henrique e Thiago Almada, nomes importantíssimos do ataque preto e branco, chegaram ao clube certos de que se transfeririam em seguida para o Lyon –algo ainda quase certo para Almada, nem tão certo para Luiz Henrique, justamente por causa das questões jurídicas nas quais está envolvida a equipe francesa.

O preço declarado na chegada de Luiz Henrique foi 20 milhões de euros (R$ 106 milhões, na cotação da época). Almada, campeão pela Argentina na Copa do Mundo de 2022, chegou no meio do ano, por US$ 25 milhões (R$ 137 milhões, na cotação da época). Há uma série de questões sobre a sustentabilidade da operação, mas o torcedor alvinegro não está preocupado com isso agora.

 

"O Botafogo é paixão, é Brasil, é confusão", escreveu Paulo Mendes Campos, no célebre "O Botafogo e Eu". "Perdido na dramaticidade poética dramaticidade do futebol", seu menino hoje só quer saber dos números incluídos aqui: Atlético Mineiro 1 x 3 Botafogo.

Alvinegros fazem a festa no Monumental de Núñez - Agustin Marcarian/Reuters

 

 
 
 
 
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