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Suspeito de crimes sexuais, pastor criou cultos 'Vem, Novinha e Tinder'
12/04/2024 09:10 em NOTÍCIA

Preso suspeito de crimes sexuais, Davi Passamani, teria criado cultos para os jovens de sua igreja com títulos diferentes do que geralmente é utilizado por igrejas evangélicas, como o culto "Vem, Novinha", em outras ocasiões também aconteceram os encontros "Rei do Camarote", "Tinder, o Culto" e "Open Bar, o culto".

O que se sabe:

Antes de as acusações virem à tona e de Davi ser preso, o pastor teria criado cultos focados em jovens. A Casa Share, ministério de jovens da Igreja Casa, realizou o culto "Vem, Novinha" em 13 de agosto de 2022.

Pastor cantou música sertaneja durante o culto. Davi cantou a música "É o Amor", clássico de Zezé di Camargo e Luciano. Como justificativa para essas ações inusitadas, à época, Passamani disse em uma pregação: "Vai ter momentos que para derrubar os inimigos lá fora, nós vamos ter que derrubar a espada que eles usam".

Giovanna Lovaglio, ex-mulher de Davi Passamani e atual pastora da Igreja Casa, ainda era casada com o ele na época do culto "Vem, Novinha" e defendeu o evento promovido por sua igreja. "É uma oportunidade de tocarmos em temas que, apesar de muitos religiosos não aceitarem, fazem parte do cotidiano desses jovens e precisam ser encarados. Nos valemos da linguagem dos jovens e das tendências que observamos nas redes sociais para tocar nesses temas".

Segundo reportagem na época publicada pelo portal O Fuxico Gospel, o culto reuniu mais de mil jovens. Giovanna explicou ao portal que foi distribuído "mais de 500 coroas para elas e explicamos na Igreja Casa que merecem ser tratadas como princesas".

Jacy Junior, pastor da Igreja Vineyard na cidade de Magé, RJ, comenta esse tipo de marketing religioso é o que tem feito muitos evangélicos não se sentirem representados por essas lideranças. Segundo ele, há uma má interpretação e distorção do contexto do texto bíblico "para com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos" dito pelo apóstolo Paulo (1 Coríntios 9.22).

Assombra-me ver que chamadas deste tipo atraia tantas pessoas. Mas, ao que parece, tem demanda. E se tem demanda, sempre vai haver aqueles que se prestam a tal. 

Jacy considera um grande equívoco esse tipo de estratégia e "um verdadeiro desserviço ao que acreditamos ser o estabelecimento do Reino de Deus".

A reportagem fez contato com a pastora Giovanna Lovaglio e sua assessoria informou apenas que ela "já está divorciada e que Davi Passamani não faz mais parte da Igreja Casa".

"Justiça foi feita"

Davi Passamani é fundador da Igreja Casa e atualmente pastor da Igreja US Goiânia. Essa não é a primeira vez que Davi é investigado por supostos abusos cometidos contra fiéis de suas igrejas, explica Rafael Augger, advogado de três mulheres que acusam o pastor pelos crimes sexuais.

"Foi levado em conta o histórico dele dos casos antigos para ajudar na fundamentação da prisão". Além das denunciantes, Rafael diz que outras mulheres não denunciaram o pastor ou por terem tido de fato um envolvimento consensual, ou por medo da exposição, já que eram de famílias tradicionais na cidade de Goiânia. "Já conversei com mais de dez vítimas que sofreram assédio", conta.

As três supostas vítimas defendidas por Rafael eram frequentadoras assíduas da Igreja Casa. O advogado explica que todos os processos que estão sendo movidos contra o pastor estão sob segredo de justiça, por se trata de crimes sexuais.

O UOL conversou com uma vítima que demonstrou alívio pela prisão de Passamani. "Justiça foi feita", disse. Como a prisão ainda é preventiva, ela afirmou que tem esperança de que ele seja julgado, condenado e preso definitivamente.

Denunciado por outro pastor

Em dezembro do ano passado, após a repercussão do surgimento de novas denúncias contra Passamani, o pastor Anderson Silva, líder do movimento da Machonaria, acusou outros pastores de serem "sócios dessa desgraça".

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A publicação em tom de revolta de Anderson Silva se dá pelo fato de, em 2020, ele ter sido procurado por uma mulher que dizia ter sido vítima de assédio cometido por Passamani. Antes disso, o líder da Igreja Casa nunca havia sido denunciado e, a partir dessa primeira denúncia, outras mulheres procuraram Anderson Silva para denunciar outros supostos casos de assédio.

Diante da visibilidade as denúncias contra Passamani, a ASSEPI (Associação Evangélica de Pastores e Igrejas - GO) emitiu uma nota em dezembro do ano passado e afirmou que o pastor se tornou por conta de seu testemunho "descredenciado para o exercício do ministério pastoral" tendo em vista suas "ações repugnantes".

O comunicado diz ainda que Passamani não faz parte do Conselho de Pastores da cidade e "não tem mais espaço em nossa cidade para o exercício do ministério pastoral", por fim, a diretoria da Assepi salienta que "abomina esse tipo de comportamento".

O que diz a defesa

O advogado Leandro Silva, responsável pela defesa de Davi Passamani, informou a reportagem que a prisão do pastor pegou a todos de surpresa, pois, segundo ele, é "impensável alguém imaginar que possa ser preso pelo motivo de frequentar louvores ou práticas religiosas".

A defesa explica que Passamani deixou a presidência da Igreja Casa no final de dezembro e que "não existe nenhuma ordem judicial que o impeça de exercer seu direito constitucional de crença e consciência". Sobre a US Goiânia, Leandro explica que não se trata de uma nova igreja, mas apenas um grupo que participa de "reuniões de louvores".

Sobre as acusações e investigações que estão em curso, o advogado diz que Passamani "nunca teve nem mesmo contato físico com nenhuma delas." Ainda segundo Leandro, "as acusações realizadas são referentes a um suposto diálogo realizado por meio de aplicativo e elas apontam Davi Passamani como sendo o outro interlocutor", conversas essas que são negadas pela defesa.

De acordo com o advogado, cerca de 14 mil pessoas passavam toda semana pela igreja, sendo a maioria mulheres e "com exceção de três, nenhuma delas reclamou algum constrangimento em relação a ele. Não existe nenhuma representação que ele tenha tido contato físico com qualquer mulher que frequentasse aquele local. Ao contrário, tem boa reputação."

Sobre os cultos "Vem, Novinha", "Tinder" e "Open Bar", o advogado de defesa afirma que Passamani não tomava as decisões sozinho e que teria sido contrário aos nomes adotados. Além disso, conforme relato de Leandro, quem havia criado os títulos para os cultos teria sido o pastor de jovens Áthila Moura.

O UOL conversou com Áthila Moura, que refutou a afirmação do advogado de Passamani e explicou que todas as ações e decisões da igreja, desde sua fundação até o dia 19 de dezembro de 2023, data em que o pastor acusado por crimes sexuais se desligou da liderança da instituição, foram "sempre pautadas na visão e direcionamento do ex-pastor Davi Passamani".

 

 

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