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Ex-chefes do Exército e Aeronáutica contaram detalhes de reunião à Polícia Federal
15/03/2024 07:59 em NOTÍCIA

Minuta golpista foi discutida no Ministério da Defesa sob Bolsonaro e teve momento de tensão.

Os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Baptista Júnior (Aeronáutica) contaram à Polícia Federal que o ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro (PL), general Paulo Sérgio Nogueira, convocou os chefes militares para apresentar proposta para um golpe de Estado contra a vitória de Lula (PT) nas eleições.

A reunião foi tensa e, segundo os relatos feitos à PF, teve o comandante da Aeronáutica deixando o gabinete do ministro da Defesa antes do término do encontro.

Folha obteve acesso à íntegra dos depoimentos dos ex-comandantes à Polícia Federal. Eles afirmaram que a reunião ocorreu no dia 14 de dezembro de 2022.

Segundo o relato de Baptista Júnior, o ministro Paulo Sérgio Nogueira afirmou no início da reunião que teria uma minuta que "gostaria de apresentar aos comandantes para conhecimento e revisão".

 

Baptista Júnior disse que, logo após ver o documento, questionou Paulo Sérgio: "‘Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?".

"O depoente [Baptista Júnior] entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito; que, diante disso, o depoente disse ao ministro da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento; que a Força Aérea não admitiria tal hipótese (golpe de Estado)", diz trecho da transcrição do depoimento.

 

Também contrário a propostas golpistas, Freire Gomes afirmou que a minuta levada por Paulo Sérgio era "mais abrangente" do que a apresentada dias antes pelo ex-presidente Bolsonaro.

O texto também decretava o estado de defesa e criava a Comissão de Regularidade Eleitoral —medidas previstas no texto encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Segundo o depoimento de Baptista Júnior, após o ministro da Defesa ser questionado sobre as intenções golpistas descritas na minuta, Paulo Sérgio permaneceu calado e nem sequer perguntou qual seria a percepção dos demais chefes militares sobre a proposta.

"O depoente, em seguida, retirou-se da sala; que a minuta estava sobre a mesa do ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira; que o almirante Garnier [então comandante da Marinha] não expressou qualquer reação contrária ao conteúdo da minuta, enquanto o depoente esteve na sala", prossegue o termo do depoimento.

O almirante Almir Garnier e os generais Paulo Sérgio e Braga Netto não têm se pronunciado a respeito das investigações. Em depoimentos marcados em fevereiro, os três ficaram em silêncio.

As revelações do antigos chefes militares colocam em evidência o último ministro da Defesa de Bolsonaro. Paulo Sérgio Nogueira assumiu o comando da pasta em abril de 2022 em sucessão ao general Wálter Braga Netto, escolhido por Bolsonaro para ser seu vice na chapa presidencial.

Paulo Sérgio chegou à Defesa quando o governo Bolsonaro já realizava uma cruzada contra o sistema eleitoral. Foi sob sua responsabilidade que foi criada uma equipe de militares para fiscalizar o processo eleitoral e foi intensificada as críticas a supostas vulnerabilidades das urnas eletrônicas.

Mesmo sem a equipe das Forças Armadas ter identificado qualquer fraude ou suspeita no processo eleitoral, o ex-ministro divulgou nota dizendo que o trabalho dos militares não poderia nem confirmar nem negar a lisura da eleição.

Depois da reunião no Ministério da Defesa, Baptista Júnior disse à PF que passou a ser alvo de ataques nas redes sociais, sendo rotulado de "traidor da pátria" e "melancia" —em acusação de que ele seria um comunista disfarçado.

A versão de Baptista Júnior sobre os ataques sofridos é corroborada pelo relatório da Polícia Federal que embasou a Operação Tempus Veritatis.

Segundo a PF, Braga Netto enviou mensagens ao capitão expulso do Exército Ailton Barros em ataques a Freire Gomes e Baptista Júnior a partir de 14 de dezembro de 2022 —dia da reunião do Ministério da Defesa.

"Meu Amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente", escreveu o general.

"Oferece a cabeça dele. Cagão", completou. Na sequência, ele enviou uma foto em frente à casa do então comandante do Exército, que fica em região próxima ao acampamento montado por bolsonaristas no Setor Militar Urbano, em Brasília.

No dia seguinte, Braga Netto voltou à conversa com Ailton Barros no WhatsApp para atacar o chefe da Aeronáutica.

 

"Senta o pau no Batista Junior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da patria. Dai pra frente. Inferniza a vida dele e da família", escreveu às 18h55 de 15 de dezembro de 2022.

 

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