A troca de mensagens em que o procurador-geral da República, Augusto Aras, promete ao empresário Meyer Nigri a abertura de investigação contra Danilo Gentili "viola a noção mais elementar de República", diz o advogado do humorista, Maurício Bunazar.
Na quinta (24), o UOL revelou que o empresário próximo do então presidente Jair Bolsonaro tinha livre acesso à PGR pediu a Aras, em março do ano passado, uma investigação sobre o filme de Gentili - tido como adversário político pelos bolsonaristas - por suposta promoção da pedofilia em um filme.
Espero uma manifestação do senhor procurador-geral da República para que ele confirme a veracidade ou não das trocas de mensagens. Se forem verdadeiras, estaremos diante de um escândalo, porque [o episódio] viola a noção mais elementar de República. Se a troca de mensagens for verdadeira, trata-se de uma relação promíscua entre um empresário e uma alta autoridade da República, voltada diretamente à perseguição de um cidadão
Maurício Bunazar, advogado de Danilo Gentili e doutor em Direito pela USP (Universidade de São Paulo)
O que aconteceu
Reportagem do colunista do UOL Aguirre Talento revelou que, em 14 de março de 2022, o empresário Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa, enviou uma mensagem a Aras para reclamar de um filme de Danilo Gentili, associando-o a pedofilia.
"Chocante. A competência é do primeiro grau. Provavelmente em São Paulo. Vou encaminhar para lá!", respondeu Aras, no mesmo dia.
O filme em questão é "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola". Foi lançado em 2017, mas, em 2022, em meio ao clima conflagrado das eleições, passou a ser associado à pedofilia.
Nigri foi um apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro (PL) e tinha bastante influência no governo. Durante a campanha de 2018, o empresário abriu sua casa para apresentar o ex-presidente - então candidato - a outros empresários de São Paulo e chegou a contribuir com a elaboração de projetos do governo, segundo O Globo.
Investigação da PF (Polícia Federal) descobriu pelo menos 18 mensagens de teor golpista ou mentiroso sobre a pandemia enviadas pelo ex-presidente ao empresário.