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População vive em alerta por conta de crateras que ameaçam 'engolir' cidade no Maranhão: 'Assusta muito'
29/03/2023 08:37 em NOTÍCIA

Enormes crateras vem se formando há mais de 30 anos e tirando o sossego de moradores de Buriticupu, principalmente durante o período chuvoso. Nos últimos dez anos, só uma voçoroca engoliu três ruas e mais de 50 casas.

A população de Buriticupu, cidade a 417 km de São Luís, vive em alerta por conta dos riscos causados pelas voçorocas, enormes crateras que há mais de 30 anos, vem invadindo parte da cidade. Durante o período chuvoso, a situação na região só piora.

Buriticupu é a cidade maranhense com a maior concentração de crateras, são 26 buracos gigantes que avançam sobre a cidade e tiram o sono dos moradores.

"Assusta, muito. Às vezes eu fico orando à Deus para não chover tão forte, tem horas até que eu peço perdão para Ele", conta Nazaré Feitosa, técnica em segurança do trabalho, que mora próximo às crateras.

A casa do zelador Carlos Cardoso está a cinco metros das crateras e mesmo assim, ele sabe que mora à beira do perigo. "Quando chove aqui, rapaz, é perigoso demais. É perigoso que ninguém dorme aqui, a noite todinha acordado só escutando o barranco desabar, tem vez que eu levanto para olhar, se não está quebrando realmente mais para cá, é obrigado a gente sair correndo", diz.

As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático, como aconteceu em Buriticupu.

De acordo com especialistas, o desmatamento, a ocupação desordenada, o relevo e o solo arenoso são os principais fatores que contribuíram para o surgimento e o avanço das voçorocas.

"A própria atividade humana ela, sem saber, ela vai criando o problema. Como não tem uma política defensiva, ela acaba causando essas erosões. Então é um material meio solto onde qualquer chuva e qualquer enxurrada vai levando micro partículas do solo para um nível mais baixo", explica Clodoaldo Nunes, geólogo.

Toda a água que cai em Buriticupu ela vai descer para o buraco mais baixo, por isso, no final de cada rua da cidade, tem uma erosão. A cada ano, as crateras avançam cerca de cinco metros sobre a cidade.

O lavrador Antônio Bezerra faz todos os dias o mesmo caminho para ver se a cratera que fica próximo a casa dele aumentou. O buraco começou há cerca de dois anos por conta da água de esgoto, que foi canalizada para o local.

"Quando eu cheguei aqui não tinha esse buraco, era só uma valetinha. Mas o pessoal começou a entupir os esgotos que tinham por aí e jogaram só para cá e, aumentou 'ligero' esse buraco aqui. A mulher lá em casa não dorme de noite não', disse o lavrador.

Da casa do lavrador é possível ouvir o barulho da água caindo na cratera. A esposa de Antônio conta que quando chove, não dorme durante à noite, preocupada com o desabamento de novas barreiras.

"É desespero total, né? A gente fica desesperado porque temos crianças pequenas e a gente vê passando, todos os dias no jornal, o pessoal morrendo por conta de barreira caindo. E aqui é diariamente, quando chove, as barreiras caem e a gente pensa que é trovão. Eu fico desesperada pensando em acordar meus meninos e sair correndo", diz a mulher.

Cratera engole casas

Nos últimos dez anos, só uma voçoroca engoliu três ruas e mais de 50 casas em Buriticupu. Parte da Vila Santos Dumont despareceu completamente e as casas que ainda não desabaram, estão próximas aos barrancos e foram abandonadas. A família do serralheiro João Otávio Farias perdeu 14 casas de aluguel.

"Em 2001, meu pai comprou esse terreno, construiu a casa de moradia dele, o local de trabalho dele que era uma marcenaria, ele mexia com madeira e no decorrer do trabalho dele, ele foi comprando um terreno aqui, construindo uma casinha ali e fazer como se fosse aposentadoria dele. Essas casas aqui eram todas alugadas. Chegou um ponto que ninguém alugaria mais por conta do perigo", diz o serralheiro.

Cerca de 180 famílias correm o risco de perder suas casas em Buriticupu e cobram uma solução do poder público. "O nosso objetivo é assegurar o direito dos nossos sócios de ter a sua moradia digna, descente e em um lugar seguro", diz um morador.

Nos últimos anos, 27 famílias foram retiradas por estarem em áreas de risco. Uma decisão judicial obriga a Prefeitura de Buriticupu a garantir moradia segura e desenvolver ações para conter o avanço das voçorocas.

"Essa decisão determina o deslocamento, realocação dessas famílias dessas que vivem em áreas de risco próximas as voçorocas e determina providências para diminuir o risco de novos desabamentos", explica Felipe Dammos, juiz da Comarca de Buriticupu.

O assessor-jurídico de Buriticupu, Gustavo Costa, diz que a situação fugiu do controle do município.

"É um problema gravíssimo que, infelizmente, hoje fugiu do controle do município. A prefeitura realiza paliativos, hoje em virtude da decisão judicial, o que a gente faz é catalogar as áreas de risco, monitoramento, realoca as pessoas e faz obras paliativas dentro das suas possibilidades", afirma.

Situação de emergência

As chuvas registradas nos últimos dias agravaram o problema em Buriticupu e, por conta disso, o município decretou situação de calamidade pública.

"A intervenção ela tem que ser tanto emergencial quanto preventiva. Caso contrário, nós teremos esse processo aumentando cada vez mais e provocando maiores danos às famílias que ali residem", diz Cel. Célio Roberto, comandante do Corpo de Bombeiros do Maranhão.

"É uma cidade boa, uma cidade linda, mas desse jeito ai, daqui uns tempos está correndo até um risco de extinção. Aqui não está mais no sinal amarelo e sim no vermelho", diz Carlos Martins, comerciante e morador da cidade.

Em nota, o Governo do Maranhão disse que o município foi incluído no decreto de situação de emergência estadual e aguarda reconhecimento do Governo Federal. O Estado informou que foi solicitado recursos federais imediatos de ações de ajuda humanitária e posteriormente, para ações de estabelecimento.

Por Regina Souza, TV Mirante

28/03/2023 20h54  Atualizado há uma hora

 

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