O relatório, apresentado na última semana do ano, é um dos cinco procedimentos contra o presidente no STF (Supremo Tribunal Federal), todos sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Como Bolsonaro não tem mais foro especial, caberá ao magistrado definir o destino desses inquéritos.
Apesar de investigado, Bolsonaro não foi denunciado durante o mandato, algo que só poderia ser feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
Fora da Presidência, procuradores e promotores poderão denunciar Bolsonaro, aumentando as chances de responsabilização.
Lula, no discurso de posse, no domingo, afirmou: "Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei. Quem errou responderá por seus erros".
Raquel Scalcon, professora da FGV Direito São Paulo e advogada criminalista, afirma que Bolsonaro fez indicações para cargos centrais com o objetivo de garantir a impunidade. Tal exemplo mostra que Lula pode agir de forma diferente e buscar o funcionamento das instituições.
"É disso que ele deve se ocupar: garantir que as instituições funcionem efetivamente, não com suposta 'revanche'. Se elas funcionarem, veremos quem deve ser punido e por quê. O presidente não pode reproduzir o que sofreu: o desvirtuamento das instituições", afirma.
A preocupação com o cenário de impunidade foi, na avaliação dos especialistas, a motivação dos gritos de "sem anistia" de petistas que assistiram ao discurso de posse de Lula no parlatório do Palácio do Planalto.
Professor de direito constitucional da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Miguel Godoy afirma que a anistia é prevista pela Constituição e pode ser concedida a pessoas para certos tipos crimes pelo Congresso Nacional por meio de lei.
Caso isso ocorra, o presidente, por meio da AGU (Advocacia-Geral da União), pode questionar a constitucionalidade da lei perante ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Emílio Meyer, da UFMG, considera isso improvável. "Ainda que haja uma parte do centrão ligada ao ex-presidente Bolsonaro, essa lei dificilmente seria objeto de aprovação no Congresso Nacional, porque há uma questão de motivação política que muda no contexto de um novo chefe do poder Executivo", diz.
Os especialistas descartam a chance de Lula conceder a graça a Bolsonaro, a exemplo do que fez o agora ex-presidente em 2021 para beneficiar o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).
A chance de o governo Lula deixar de agir diante de provas que possam comprometer Bolsonaro e integrantes de seu governo também é vista como remota. Túlio Vianna afirma que além da omissão, para caracterizar o crime de prevaricação é preciso provar que o agente foi beneficiado.