Copa 2022:Restrição ao álcool faz adultos virarem adolescentes na Copa
21/11/2022 10:14 em ESPORTE

Sexta-feira, véspera da abertura da Copa-2022, me encaminho para jantar com o pessoal do UOL em um hotel após o dia de trabalho. Chamo outro amigo jornalista e comunico: "Vende cerveja". De imediato, o colega responde que me encontra lá.

O diálogo é ilustrativo do que se tornou o comportamento de boa parte de trabalhadores e torcedores nesta Copa diante das restrições do Qatar à bebida alcoólica. Voltamos todos a nos tornar adolescentes, tentando driblar as barreiras para poder beber uma cerveja no final de expediente - e também para poder pagá-las.

Um amigo indica uma região onde os hotéis e restaurantes têm autorização, um outro conta que recebeu um carregamento de um amigo e estocou no hotel, um terceiro explica que é possível obter uma permissão para adquirir bebida nos mercados.

No Qatar, cidadãos estrangeiros moradores podem comprar em certos locais bebida para consumir em casa. Abriu-se essa possibilidade para quem está a trabalho aqui no Mundial. A minha carteirinha, se é que pode se falar assim, deve chegar nos próximos dias. Me sinto como um adolescente que conseguiu uma identidade falsa para ir no boteco (a minha é legal, viu).

A coisa é tão burocrática que, com o aval, você ainda tem que marcar o dia para adquirir sua birita com quantidade indicada. É a chance de comprar cerveja por um valor na casa dos R$ 20. Uhu!!! A ver se terei tempo para ir no mercado com a loucura que é a cobertura de uma Copa do Mundo.

Fora do mercado, os bares mais em conta vão te cobrar aí pouco menos de US$ 10 (R$ 55) por uma long neck. É o quíntuplo do que se paga em um bar similar no Brasil.

O comportamento dos torcedores está de tal forma alterado que outro dia vi um vídeo de um sujeito que tomou seguidas garrafinhas pelo módico preço de R$ 90 cada uma. Gastou na casa dos milhares de reais. Realmente?

Na abertura da Copa, um grito de desespero dos equatorianos: "Queremos cerveja, queremos cerveja". Na Fan Fest, filas quilométricas para tentar comprar uma garrafinha, confusão na porta por excesso de pessoas que queriam entrar no evento.

Ao falar sobre proibição de cerveja no entorno dos estádios, determinada de última hora, o presidente da Fifa, Giani Infantino, afirmou que os torcedores "vão sobreviver". Como se a Copa do Mundo fosse a respeito de sobreviver e não se divertir. É o mesmo Infantino que tinha colocado em um manual para torcedores que eles poderiam beber próximo das arenas.

Certo é que o Qatar impôs os seus costumes a todos os torcedores que vão à Copa. Mas eles estão aí por Doha tentando dar dribles nesses hábitos. É como se o Qatar fosse o pai restritivo que quer nos manter sóbrios.

Quando meu amigo chegou no restaurante indiano - aquele onde "vende cerveja" -, pedimos um balde com cinco garrafinhas para os dois. Nos custou mais do que o triplo do que o meu prato. Um colega do UOL perguntou se podia pegar o finzinho de uma garrafa. "Claro", respondemos. "É que isso aqui vale ouro", observou ele.

 

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