O presidenciável Luiz Inacio Lula da Silva decidiu reservar os últimos dias antes da eleição para fazer comícios e atos nos estados do Sudeste, onde tenta atrair os eleitores que em 2018 votaram em Jair Bolsonaro. Isso não significa que na região onde é dominante, o Nordeste, a campanha tenha esfriado. Pelo contrário. Uma mobilização inédita nas cidades nordestinas do interior tem levado às ruas multidões de pessoas vestidas de vermelho, cantando e dançando atrás dos carros de som que tocam músicas em homenagem a Lula no ritmo popular do "piseiro". São os chamados "arrastões" ou o "piseiro 13", que viraram febre nessa eleição.
Morador da cidade de Alexandria, no Rio Grande do Norte, o médico David Abrantes acordou cedo no sábado (24) para ajudar a preparar o segundo "arrastão", que ocorreria à noite naquela localidade. O sucesso do primeiro, realizado no dia 16, fez crescer a expectativa. "Acompanho a política local há 24 anos e nunca tinha visto algo assim", disse ele à coluna. "É quase um Carnaval fora de época".
"Talvez essas manifestações alegres sejam o motivo de a diferença de Lula para Bolsonaro ser tão grande aqui na região", arrisca Pordeus. "Ninguém fala, não tem discurso, só as músicas de 'piseiro' e o pessoal dançando e cantando nas ruas. Quando acaba um, os moradores já perguntam quando vai ser o outro".
Ali, como em outras cidades, os apoiadores de Lula são atraídos por gigantescos sistemas de caixas de som, os chamados "paredões", com iluminação colorida e tocando músicas a favor de Lula ou contra Bolsonaro que os nordestinos sabem de cor.
A organização do evento é quase igual em todas as cidades: os militantes se limitam a fazer uma vaquinha para pagar os carros de som e gravar pen drives com a sequência de músicas. Depois, basta distribuir cartazes nas redes sociais e contratar carros de alto-falantes para pedir que as pessoas compareçam com roupas vermelhas.
O presidente do diretório estadual do PT no Maranhão, Francimar Melo, estima que no último fim de semana pelo menos 60 municípios do interior maranhense fizeram eventos assim. "Na próxima sexta (30) e no sábado (1º) vai acontecer em muitas cidades", diz ele. "Tem sido um movimento diferente de outros momentos eleitorais. Tem a participação de muitos jovens, é muito espontâneo, talvez porque não seja música no estilo de programa eleitoral, mas o piseiro mesmo".
As imagens dos "arrastões" nordestinos em apoio a Lula têm circulado pelas redes sociais com grande frequência. Somente em Toritama simpatizantes de Jair Bolsonaro tentaram fazer algo similar, mas com muito menos gente.
No Maranhão, não há registro de nada parecido por parte dos apoiadores do presidente da República. "Por aqui não teve mobilização bolsonarista assim, não é o estilo deles", explica o maranhense Francimar. "Eles normalmente fazem carreata ou motociata, que preenchem mais os espaços vazios com os veículos".
UOL
