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Operação no RJ: Corrupção de policiais seria “pilar” de organização criminosa
11/05/2022 04:33 em POLÍCIA

Ministério Público descreve envolvimento de agentes de segurança tanto no recebimento de propina quanto na segurança do grupo de jogos de azar

“Uma rede de proteção nutrida por uma corrupção de agentes públicos” seria o pilar da organização criminosa para exploração de jogos de azar, alvo da Operação Calígula, deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nesta terça-feira (10).

“Os dados produzidos conferem justa suspeita de que os atos de corrupção envolvendo agentes públicos não são episódicos e ocasionais, mas sim sistêmico, entranhada nas instituições públicas, em especial na Polícia Militar e Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro“, apontou o juiz Bruno Monteiro Rulière, na decisão que autorizou a operação.

Entre os suspeitos elencados pelo Ministério Público estão dois delegados, além de outros policiais civis e militares, em uma rede que, segundo a investigação, seria comandada por Rogério de Andrade, sobrinho do famoso bicheiro Castor de Andrade, que morreu em 1997.

Um dos presos desta terça-feira é o delegado Marcos Cipriano. As investigações apontam que ele tinha papel operacional e teria sido o responsável por intermediar um encontro entre a delegada Adriana Belém e Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Após a reunião, máquinas de bingo apreendidas na área de atuação de Adriana teriam sido liberadas.

O MP ainda relata que, entre 24 de julho de 2018 e 17 de outubro de 2018, a delegada teria recebido promessas de vantagens indevidas, assim como o inspetor da unidade onde trabalhava, o policial civil Jorge Luiz Camillo Alves. Nesta terça-feira os agentes apreenderam R$ 1,2 milhão em dinheiro na casa de Adriana Belém.

Dentro da organização do grupo ainda estaria o policial civil aposentado Amaury Lopes, responsável pelas tratativas com agentes públicos e propinas. A denúncia também cita o envolvimento do inspetor Vinicius de Lima Gomez, que teria aceitado vantagens indevidas.

Já policiais militares fariam parte da cúpula de segurança da organização criminosa. Márcio Araújo de Souza seria conhecido como “comandante geral”, cuidando da segurança dos pontos de jogos de azar e ainda das disputas de poder e território. Abaixo dele estaria o policial militar Daniel Rodrigues Pinheiro, que seria responsável pela segurança pessoal dos líderes do grupo.

Como aponta o juiz, as denúncias oferecidas descrevem uma “complexa e estruturada organização criminosa que seria liderada pelo denunciado Rogério de Andrade, de dimensões excepcionalmente ampliadas, com estrutura empresarial ligada à atividade da ‘contravenção’, com mecanismos dispostos a potencializar e assegurar o gozo das vantagens financeiras oriundas da exploração de jogos de azar, rede de proteção nutrido por corrupção de servidores públicos, atos de violência e demonstração de exacerbada força e poder, inclusive com o cometimento de homicídios para eliminação daqueles que se colocam contra os interesses do grupo, com conexão com facções criminosas e milícias, tudo visando o atingimento de fins ilícitos.”

Entre os crimes investigados estão corrupção ativa, extorsão, lesão corporal de natureza grave, homicídio e lavagem de dinheiro.

O que dizem os citados?

CNN ainda tenta as defesas dos policiais citados.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que ambos os delegados alvos da operação não têm cargos atualmente. “Adriana Belém está afastada de licença e Cipriano trabalhando em outra instituição. A Corregedoria solicitará acesso às investigações para dar andamento aos processos administrativos necessários”, divulgou.

Marcos Cipriano é conselheiro da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado (Agenersa). Em nota, a Agenersa disse que “não comenta decisão da Justiça e esclarece que os fatos não têm relação com as atividades da agência.”

Adriana Belém, que era delegada da 16ª DP, atualmente trabalha na Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da capital carioca. Em nota, a pasta afirmou que “a delegada licenciada Adriana Belém está lotada na Secretaria Municipal de Esportes, no cargo de assessora, e será exonerada nesta terça-feira, após a deflagração da Operação Calígula.”

Acusado de ser o líder da organização, Rogério Andrade se manifestou, por meio de sua defesa, em nota. “Essa operação além de não deixar demonstrado a necessidade da prisão cautelar do Rogério, se mostra claramente uma afronta ao STF que acaba de conceder o trancamento de uma ação penal contra ele”, afirma o comunicado do advogado Ary Bergher.

Já a defesa de Ronnie Lessa disse que soube pela imprensa do ocorrido. “Nós ainda vamos nos inteirar do que está acontecendo. Saber se há alguma acusação, qual acusação e quais os elementos que subsidiam ela. Por enquanto, não temos como nos posicionar. Estamos no escuro”, afirmou.

 
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