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Como Flamengo e Palmeiras concentram 29% das receitas do futebol brasileiro
Esportes
Publicado em 10/05/2022

O bolo ficou maior. Mas a fatia mais representativa de receitas dos clubes brasileiros em 2021 ficou ainda mais concentrada no prato de Flamengo e Palmeiras. Donos da maior arrecadação no Brasil, eles atingiram, juntos, a marca de R$ 2,059 bilhões em receitas, em um universo de 25 clubes que embolsou R$ 7,074 bilhões no ano passado. No conturbado 2020, o montante total da elite nacional ficou em R$ 5,2 bilhões.

O consolidado dos números, feito pela empresa de consultoria Ernst & Young (EY), mostra que há um distanciamento ainda maior no bloco formado por rubro-negros e palmeirenses em relação aos demais. A dobradinha Fla-Verdão representa 29,1% das receitas totais da elite nacional. Nos números absolutos, o Flamengo segue na liderança e, em uma performance financeira recorde, foi o primeiro a bater a marca do bilhão (R$ 1.082 bi, para ser mais exato). O Palmeiras, por sua vez, embolsou R$ 977 milhões no ano.

Os balanços de 2021 têm uma peculiaridade porque absorveram uma fatia significativa de recursos que deveriam ter entrado em caixa no ano de 2020, mas foram postergados por causa da mexida no calendário gerada pela pandemia. Isso envolve, majoritariamente, os recursos com direitos de transmissão de premiações. O Palmeiras, por exemplo, contabilizou dois títulos da Libertadores no mesmo balanço.

Em 2019, último ano sem percalços externos nas finanças dos clubes, Palmeiras e Flamengo tiveram, somados, R$ 1,5 bilhão de receitas, o que representava 25,4% dos R$ 6,25 bilhões arrecadados pelos clubes da elite

Em 2021, a distância para o terceiro colocado no ranking de receitas, o Atlético-MG, é de R$ 472 milhões, já que o clube mineiro, campeão brasileiro e da Copa do Brasil, fechou a temporada com R$ 505 milhões arrecadados. Essa diferença é maior, por exemplo, do que a arrecadação individual de Santos, Internacional, Fluminense e Athletico.

"Há, de fato, um desprendimento. Está grande. E há uma sinalização clara de concentração de renda no futebol brasileiro, mas não acredito que ela ficará centralizada em dois clubes. Acho que teremos algo mais próximo do mercado inglês do que do espanhol. Acho que teremos um pool de cinco clubes", comentou Pedro Daniel, diretor executivo da área de esportes da EY no Brasil.

Ele faz referência ao cenário apontado no relatório da empresa que aponta para o desempenho financeiro dos clubes nos últimos cinco anos. De 2017 a 2021, um bloco de cinco clubes — composto por Corinthians, Grêmio e São Paulo, além de Flamengo e Flamengo — foi responsável por 46% das receitas totais de um universo que considera 25 clubes.

Com o rebaixamento do Grêmio, a tendência é que o Atlético-MG passe a integrar a prateleira mais elevada. Em 2021, quando ainda disputou a primeira divisão, o tricolor gaúcho ainda apareceu entre as cinco maiores receitas (R$ 498 milhões), superando o São Paulo, em sexto (R$ 476 milhões).

Mas o que sustenta Flamengo e Palmeiras no topo da arrecadação? O cenário desportivo, para começar, tem os dois clubes como os vencedores das três últimas edições da Libertadores - competição que remunera em dólar. A variação cambial, neste caso, é um elemento a favor. Mas há peculiaridades de cada clube que afetam o enredo do crescimento deles.

"Os dois estão em situações distintas, apesar de terem se desgarrado. Eles se desgarraram por motivos diferentes. Tanto que o trabalho de reestruturação dos dois foi completamente diferente. Um teve dinheiro de fora e outro com as próprias pernas, vamos dizer, que foi mais longa. Dentro de um cenário de protagonismo dos dois, o Flamengo é mais consolidado. A gente consegue ver um equilíbrio maior entre as fontes de receita", explica Pedro Daniel.

Em 2018, ano em que foi campeão brasileiro pela última vez, o Palmeiras chegou a arrecadar mais que o Flamengo, mas o impulso que o Fla teve em 2019 - ao menos nas finanças - segue fazendo os gráficos de arrecadação subirem na Gávea.

Quanto à origem das receitas de 2021, mencionado por Pedro Daniel, o Palmeiras teve desempenho esportivo melhor, o que incluiu, além das Libertadores, a Copa do Brasil em 2020 (que foi conquistada já em 2021) e as participações no Mundial de Clubes. Assim, o clube ganhou quase R$ 100 milhões a mais que o Flamengo em direitos de transmissão e premiações — R$ 551 milhões dos paulistas, contra R$ 450 milhões dos cariocas.

No entanto, o rubro-negro teve parcelas mas equânimes no que diz respeito a transferências de jogadores (R$ 278 milhões, puxados pela negociação de Gerson com o Olympique de Marselha) e receitas comerciais (R$ 202 milhões, o que incluiu patrocínio e licenciamento). A título de comparação, o Palmeiras arrecadou R$ 139 milhões com transferências. A favor do Flamengo há o engajamento da torcida, que é mais numerosa, embora o Palmeiras tenha a seu favor um estádio que lhe é rentável.

Os resultados de Flamengo e Palmeiras nas finanças são indicativos do que pode acontecer nos gramados por mais uma temporada.

"O ciclo virtuoso é arrecadar bem para ter alta performance. Pode acontecer o contrário, mas em situações menos recorrentes", finaliza Pedro Daniel.

 

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