Um ataque com mísseis atingiu uma estação de trem em Kramatorsk, a cerca de 690 quilômetros de Kiev, na região de Donetsk, leste da Ucrânia. Segundo a administração militar da região, ao menos 50 pessoas morreram no ataque nesta sexta (8), 44º dia da guerra russa no território ucraniano. Entre os mortos, há cinco crianças.
A Rússia nega participação no ataque, que atingiu pessoas que deixavam a região por causa do conflito promovido pelo presidente russo, Vladimir Putin.
Segundo a polícia da Ucrânia, o ataque atingiu uma sala de espera temporária, "onde centenas de pessoas aguardavam o trem de evacuação". O número de feridos que foram levados a hospitais é de 98 pessoas, sendo 46 mulheres e 36 homens. Delas, doze morreram, de acordo com a administração militar da região de Donetsk.
"Esperamos que outras vítimas procurem ajuda médica dentro de um ou dois dias. Então, o número de vítimas mudará constantemente", disse Pavlo Kyrylenko, chefe da administração militar da região.
Segundo o prefeito de Kramatorsk, Oleksandr Honcharenko, cerca de 4.000 pessoas estavam no local no momento do ataque. Ele estimou que 90% delas eram idosos, mulheres e crianças. Cidades vizinhas enviaram 40 médicos para fazer cirurgias de emergência, segundo o prefeito.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que as forças russas atacaram uma estação ferroviária "onde milhares de ucranianos pacíficos esperavam para serem evacuados". "Os não-humanos russos não abandonam seus métodos. Sem força e coragem para nos enfrentar no campo de batalha, eles estão destruindo cinicamente a população civil. Este é um mal que não tem limites. E se não for punido, nunca vai parar.
Em nota, o Ministério da Defesa da Rússia negou participação no ataque, dizendo as declarações de ucranianos ligando os russos a essa ação "são uma provocação e são absolutamente falsas". "Em 8 de abril, as Forças Armadas russas não tiveram missões de fogo na cidade de Kramatorsk".
O ministério disse que o ataque "foi realizado por uma divisão de mísseis das forças armadas ucranianas da área do assentamento de Dobropolye, 45 quilômetros a sudoeste da cidade".
Para o governo russo, "o objetivo do ataque do regime de Kiev à estação ferroviária de Kramatorsk foi interromper o êxodo em massa de moradores da cidade para usá-los como um 'escudo humano' para defender as posições das Forças Armadas da Ucrânia, como em muitos outros assentamentos da Ucrânia".
A versão russa é rebatida pelo Centro de Comunicações Estratégicas e Segurança da Informação, do governo ucraniano, dizendo que a Rússia usa o tipo de míssil envolvido no ataque desde 6 de março. E que houve um lançamento de mísseis a partir de Shakhtar, em área separatista na Ucrânia, nesta sexta (8).
As informações de ambos os lados não puderam ser verificadas com fontes independentes até o momento.
No míssil, há uma inscrição, em russo, que significaria "para nossas crianças". Não é possível afirmar se a expressão foi pintada antes ou depois do ataque em Kramatorsk.

Para Andriy Yermak, chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, "o ataque com mísseis na estação ferroviária de Kramatorsk é outro crime sangrento, uma tentativa dos russos de interromper a evacuação e intimidar as pessoas".
Membro da delegação ucraniana que negocia com os russos, Mykhailo Podolyak disse que a Rússia é um "Estado terrorista" e que "comprar petróleo e gás [da Rússia] é financiar o terrorismo". Na opinião dele, o ataque à estação "é um ato deliberado de intimidação". "Dezenas de civis mortos e feridos. Famílias com crianças que estavam tentando evacuar."
Chefe da delegação ucraniana, David Arakhamia ressaltou que "evacuações estavam sendo realizadas lá no momento" do ataque.
Este ato cínico de agressão prova mais uma vez que o alvo do ocupante é toda a população da Ucrânia. Incapaz de derrotar os militares, o inimigo decidiu lutar com mulheres e crianças. Pensávamos que o mundo nunca mais veria isso. Mas está acontecendo agora. No nosso país. Em plena luz do dia
Hoje, Zelensky recebe a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que viaja para Kiev, a capital do país. A Ucrânia ainda está sob ataques, agora mais concentrados no sul e, principalmente, no leste, atual foco da Rússia.
Para a inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, a expectativa é que o exército russo faça um direcionamento em massa para esta região ao longo da próxima semana. Nos últimos dias, autoridades ucranianas têm feito um apelo à população para deixar o leste do país.
Ainda contabilizando os mortos após o massacre em Bucha, o governo ucraniano disse que a situação é "muito pior" em outra cidade também da região de Kiev: Borodianka. Nesta pequena cidade "há mais vítimas" do que em Bucha, disse Zelensky.

A visita da presidente da Comissão da UE (União Europeia) é comemorada pelo governo ucraniano. "Diplomacia internacional retorna a Kiev", disse Yermak. Ele citou também o retorno de diplomatas da Lituânia, Letônia, Turquia e Eslovênia à capital ucraniana.
"Acredito que a presença de embaixadores estrangeiros em Kiev é um importante indicador de apoio à Ucrânia, bem como um passo que pode definitivamente acelerar a paz", disse. Ontem, a UE aprovou um quinto pacote de sanções contra a Rússia.

O Ministério da Defesa da Rússia divulgou imagens do lançamento de um míssil, a partir do Mar Negro, contra a região de Odessa, no sul da Ucrânia, em um ataque contra infraestrutura militar.
Segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, ao menos dois edifícios foram danificados pelo ataque em Odessa. "Infelizmente, há vítimas", disse o comunicado, apontando que o número ainda era apurado. Segundo os ucranianos, o ataque foi feito com três mísseis.

Zelensky quer que a ONU (Organização das Nações Unidas) atue para que haja um isolamento internacional contra a Rússia. Para ele, oito anos depois da invasão russa à Crimeia, é preciso trocar a "preocupação" por "ultimato".
"É por isso que agora você precisa cortar diplomaticamente a Federação Russa", disse em entrevista a um canal de televisão da Índia. "Se você não sabe como fazer isso, vamos desenvolver um formato e passos específicos poderosos para colocar a Rússia em seu lugar. Você não precisa falar em preocupação. Você precisa falar com eles com ultimatos. Suas próprias armas. Porque eles falam conosco e com o mundo inteiro apenas com ultimatos."
Para Zelensky, "a ONU pode fazer muito", ressaltando que a palavra "preocupação" não é suficiente para interromper a guerra, que chegou hoje a seu 44º dia. "Se estamos falando do isolamento da Federação Russa em várias organizações internacionais, então deve haver isolamento, e não reuniões constantes com eles, apertos de mão, sentar-se à mesma mesa, falando sobre a necessidade de resolver de alguma forma a questão, que estamos novamente preocupados..."
Ontem, a ONU suspendeu a Rússia de seu Conselho de Direitos Humanos. O Brasil absteve-se na votação.

Ontem, a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, disse que socorristas tinham encontrado 26 corpos nos escombros de dois edifícios bombardeados na cidade, que tinha pouco mais de 13.000 habitantes antes da guerra. Mas "é impossível prever" quantos mortos houve no local, acrescentou Venediktova, para quem a localidade "é a cidade mais destruída da região". Segundo a procuradora-geral, na cidade, não há base militar.
Hoje, o serviço de emergências da Ucrânia informou que "agora, a principal tarefa do destacamento combinado que trabalha no local é encontrar cada vítima para que os parentes possam se despedir".