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Homofobia desde a base
20/01/2022 10:32 em ESPORTE

 um camisa 24. A sequência numérica era interrompida, passando do 23 para o 25. O autor da denúncia foi a ONG Grupo Arco-Íris, que luta pelos direitos de pessoas LGBTQIA+. O Rubro-Negro, entretanto, foi isento de qualquer penalidade após se manifestar alegando que a presença de um jogador 24 não é obrigatória segundo o regulamento.

A denúncia, porém, levanta uma questão: qual o tamanho da rejeição ao número 24? No jogo do bicho, o 24 representa o veado, animal que se tornou socialmente associado a homossexuais. Ao reforçar a ligação, cria-se mais uma forma de disseminar o preconceito.

O UOL, então, checou as súmulas da primeira fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior. E descobriu que apenas 35% dos times inscreveram um jogador com a camisa 24 em uma de suas três primeiras partidas no torneio.

Em 2022, já não é novidade falar sobre igualdade e diversidade. O futebol não deveria ser um mundo à parte. Nos estádios, gritos homofóbicos e racistas já são punidos com afinco. Então, por que reproduzir a homofobia na maior das subjetividades, alegando ser escolha pessoal usar ou não o número, permanece aceitável? 

Ação foi arquivada

Como resposta à notificação judicial, o Flamengo disse que também não usou na Copinha o número 12 — "aposentado" em homenagem à torcida — e indicou que a identificação nas camisas foi definida pelos jogadores. E citou que tem promovido ações contra o preconceito, como o fato de Gabigol ter usado a camisa 24 na final da Taça Guanabara de 2020 (na foto acima).

O Fla ainda pontuou que a camisa 24 é usada normalmente na Libertadores e voltou a 2019 para citar que o número estava nas costas de Pablo Marí na campanha do título continental — lembrando que Marí é espanhol e o preconceito contra o número é algo brasileiro.

Na última terça-feira (18), a procuradoria do TJD-SP pediu o arquivamento da ação. O órgão ponderou, inicialmente, sobre questões processuais e entendeu que "possui interesse na causa, contudo não tem capacidade processual para atuar" no caso, à luz do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).

Na peça assinada pelo procurador Vinicius Marchetti de Bellis Mascaretti, há a argumentação de que "é suposição afirmar que o número 24 não foi utilizado por razões discriminatórias e homofóbicas". O procurador ainda ressaltou que "há necessidade de provas mais concretas para justificar tal afirmação" e que "não é possível constatar o dolo na prática de ato discriminatório" por parte do Flamengo.

Ao UOL, o presidente do TJD-SP, o delegado Antônio Olim, disse que só precisaria "canetar a decisão da procuradoria" caso houvesse recurso. E que, nesse caso, endossaria o arquivamento. "Recebi duas denúncias [do Grupo Arco-Íris], uma contra o Flamengo do Rio, por causa da camisa, outra contra o Flamengo-SP, por gritos homofóbicos vindos da torcida, a respeito dos quais mandei instaurar um inquérito, porque torcida precisa aprender a respeitar as pessoas", disse à reportagem.

"Mas, sobre o número, a maioria [dos times] não tem. Como vou tomar alguma providência? É complicado", seguiu Olim. Antes do arquivamento, ele já tinha avisado à reportagem que não pretendia levar adiante a denúncia. A decisão de dar um prazo para que o Flamengo se manifestasse cumpriria apenas protocolo. "Têm prédios em São Paulo que não tem o 13º andar. Vou eu ficar batendo de prédio em prédio perguntando para o síndico por que não tem o número 13?"

Presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT e Diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI+, Claudio Nascimento explica que as ações pela ausência do número 24 nos elencos têm a intenção de jogar luz a um debate sobre uma prática que tem como consequência a perpetuação de um preconceito no esporte. O grupo foi responsável, também, por uma ação contra a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) durante a Copa América.

"A tomada dessa decisão [entrar com a ação] foi em razão das repetidas atitudes do Flamengo em insistir na mesma visão da CBF [Confederação Brasileira de Futebol], em tratar o 24 como um número que remete a uma ideia de que está associado ao veado e, de alguma forma, isso teria prejuízo para o jogador. Isso, na verdade, só faz alimentar e aprofundar a discriminação. O número 24 só é mais um número, como qualquer outro".

Ele conta que logo que a ação se tornou pública, o Arco-Íris recebeu diversas mensagens preconceituosas: "Parece bobagem, mas o Grupo Arco-Íris, assim que tomou a iniciativa de acionar juridicamente o Flamengo, recebeu mais de 200 mensagens homofóbicas, transfóbicas, lesbofóbicas em nossas páginas. Isso só demonstra o quanto ainda o estigma contra a comunidade LGBT vem sendo associado ao futebol, confirmando exatamente a iniciativa da nossa ação: chamar a atenção ao debate sobre a questão LGBTI, LGBTIfóbica no esporte", afirmou.

 

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